Casa levou a arquitetura ao grande público
Depois de um ano de atividade da Casa da Arquitetura na Real Vinícola, em Matosinhos, a casa interagiu com mais de 100 mil pessoas, sendo que 40% chegaram por via das exposições. Outros 20% através dos programas paralelos associados às grandes mostras, como foi o caso das exposições "*Poder Arquitetura", "universalistas - 50 anos de arquitetura portuguesa" e "Infinito Vão - 90 anos de arquitetura brasileira". As restantes visitas refletem a participação nas muitas atividades que a Casa vai desenvolvendo ao longo do ano. Entre estas, destaca-se o Open House Porto, que em 2018 bateu o recorde de visitas (31 944). Também as visitas ao percuso Siza Vieira, em 2018 tiveram 7283 participantes - o Serviço Educativo da Casa da Arquitetura recebeu, no total das suas atividades nesse mesmo período, 13067 pessoas.
Números que mostram o sucesso deste projeto e que o arquiteto Nuno Sampaio, mentor e diretor executivo da Casa da Arquitetura, refere que se trata de um projeto que veio ocupar um espaço essencial na aproximação da disciplina a todos os públicos e no tratamento dos acervos e espólios existentes. “Em Portugal, nós temos conseguido levar a arquitetura de forma descodificada e de fácil entendimento a novos públicos, expandindo-a para fora dos limites da profissão. A Casa tem sido também importante porque mostra novos acervos de arquitetura que não eram conhecidos, tem mostrado o processo criativo da arquitetura e o seu conteúdo para que seja melhor compreendido e, por último, tem-no feito de uma forma sedutora e descodificada, capaz de levar mais gente a querer relacionar-se com a disciplina”, explica.
Nuno Sampaio avança ainda que neste momento, estão a trabalhar para a entrada do Estado na instituição e a consolidar a participação da Casa na construção de uma estratégia coletiva e internacional sobre arquitetura. “Estamos a fazer uma grande aposta na internacionalização da arquitetura e dos arquitetos, seja trazendo conteúdos de fora para a Casa, seja levando as nossas propostas a outros países e instituições. Ao mesmo tempo, investimos no reforço das coleções nacionais e internacionais no nosso Arquivo”, esclarece.
De facto, o responsável admite que foram cumpridos todos os objetivos. “Mostrámos que somos capazes de trazer arquitetura aos não arquitetos, com uma programação muito diversificada nos seus conteúdos, exposições e conferências, assim como dar início à constituição da coleção da Casa. Estivemos a trabalhar durante dois anos na grande coleção que é a de arquitetura brasileira e da qual resultou a exposição “Infinito Vão – 90 anos de arquitetura brasileira”, patente na Casa da Arquitetura até 28 de abril. Através dela conseguimos pôr a cultura em diálogo com outras áreas culturais e sociais. O mesmo aconteceu com outras mostras, como a Poder Arquitectura ou a Casa da Democracia, por exemplo”.
E acrescenta: “É importante mostrar como a arquitetura pode ser produzida em diferentes contextos, seja revelando novas técnicas, seja proporcionando aos jovens arquitetos e estudantes uma prática profissional real”.
Capacidade da arquitetura portuguesa se adaptar
Nuno Sampaio admite que a arquitetura portuguesa tem a dupla capacidade de construir bem com pouco dinheiro, quer utilizando novas tecnologias e materiais que a indústria portuguesa foi desenvolvendo [adaptando-se aos padrões de qualidade exigidos pela Europa], mas nunca perdendo a capacidade de aliar os saberes que ainda existem em Portugal, como os bons carpinteiros, serralheiros ou pedreiros, a essa mesma tecnologia mais sofisticada. “A arquitetura portuguesa tem tido esta capacidade de se adaptar e resistir às diferentes transformações que tem havido. Por isso muitos dos escritórios e arquitetos portugueses vão ganhando espaço de trabalho noutros mercados”, admite o arquiteto.
*Texto publicado na edição em papel do Diário Imobiliário no Jornal Económico. Escrito com o novo Acordo Ortográfico