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Sustentabilidade

 

Portugal tem que combater a pobreza energética e não o pode fazer só com aquecedores

22 de abril de 2021

A maioria dos portugueses (88%) considera a sua casa desconfortável termicamente e apenas 12% diz habitar uma casa confortável, indica um inquérito do Portal da Construção Sustentável (PCS).

O inquérito à população portuguesa, residente em Portugal Continental, incidiu sobre o conforto térmico de suas casas. Na mesma altura em que o Governo avança com uma estratégia nacional para combater a pobreza energética, que entrou em consulta pública e prevê metas de redução gradual desta problemática até 2050.

Segundo os resultados deste inquérito, a maioria dos participantes (88%) considera a sua casa desconfortável termicamente e apenas 12% diz habitar uma casa confortável, sendo que para isso, necessita gastar energia em climatização, pois, dos inquiridos, são 94% os que dizem ter um aumento significativo do consumo de energia para climatizar a casa e, em todas as províncias do País, o desconforto térmico é geral.

De acordo com as medidas agora apresentadas, o Governo quer combater a pobreza energética através de vales do Estado atribuídos às famílias mais carenciadas, que serão aplicados diretamente na compra de fogões, aquecedores, equipamentos para arrefecer a casa ou na instalação de painéis solares fotovoltaicos para autoconsumo. E também poderão ser usados em obras de melhoria de eficiência energética em casa.

Contudo, mais de metade dos inquiridos (55%) neste estudo, não recorre apenas a equipamentos, mas também a mais roupa, e explicam porquê, para pouparem dinheiro em aquecimento (74%).

Para Aline Guerreiro, CEO do PCS, a questão é "como quer o governo combater a pobreza energética com mais equipamentos que consomem energia, como sendo os aquecedores e os equipamentos para arrefecimento, quando as famílias portuguesas não conseguem pagar os gastos consumidos e tem que recorrer a outros métodos como sejam o uso de várias camadas de roupa?".

É preciso não esquecer que cerca de 1,2 milhões de famílias gastam mais de 10% do seu rendimento mensal com a fatura energética e, ainda assim, não conseguem climatizar as suas casas. Outra das questões reveladas pelo inquérito, é a de que há um desconhecimento geral dos inquiridos pela relação entre construção/materiais, com o conforto térmico.

De recordar que, no último trimestre de 2020, foram abertas candidaturas pelo Governo, através do Fundo Ambiental, para atribuição de financiamento para que os portugueses tornassem as suas casas mais sustentáveis, a vários níveis. Em quatro meses foram dispensados 4,5 milhões de euros para as candidaturas aprovadas. No entanto, o inquérito hoje divulgado revela que 42% dos inquiridos não teve conhecimento desta possibilidade. E aqueles que obtiveram financiamento, que foram apenas 1% dos inquiridos, este foi maioritariamente atribuído à colocação de painéis fotovoltaicos, o que vai conduzir à redução da fatura de eletricidade é certo. Mas pouco ou nada significativos, foram os investimentos realizados em melhorias na construção, que, essas sim, são soluções definitivas, como sendo a substituição de caixilhos e de vidro (janelas) e colocação de isolamento, medidas que melhoram a eficiência energética sem recurso a mais equipamentos.

"A energia mais barata é a energia que não necessitamos de gastar. Por isso, é pertinente pensar no combate à pobreza energética através da reabilitação sustentável dos edifícios, de forma a isolá-los convenientemente", considera Aline Guerreiro. São 44%, os inquiridos, que dizem viver numa casa sem qualquer tipo de isolamento e 28% não sabe.  O isolamento térmico insuficiente nos elementos opacos da envolvente pode representar entre 30% a 60% das perdas térmicas. O baixo desempenho de vãos envidraçados e portas, com caixilharias desadequadas, representam entre 25% a 30% dessas mesmas perdas.

Tendo em conta que cerca de 40% do consumo total de energia na União Europeia corresponde aos edifícios, o aumento da eficiência energética destes constitui uma das medidas necessárias para reduzir a dependência energética e também diminuir as emissões de gases com efeito de estufa. "Todos os edifícios deveriam ser desenhados, construídos e reabilitados, de forma a pouparem energia, reduzindo as emissões de CO 2 associadas. É urgente a consciência ambiental. Temos de parar de poluir. Seja pela má utilização de recursos, seja pelas emissões poluentes que todos poderíamos evitar", concluiu Aline Guerreiro