Porto: câmara cria plano estratégico para reabilitação da "ilhas"
A câmara do Porto está a criar um plano estratégico que lhe permita comprar “ilhas” habitacionais, bem como ser "facilitador" de privados que queiram renovar espaços desta natureza, indicou hoje o vereador da Habitação, Fernando Paulo.
Em declarações à Lusa, à margem de uma sessão pública sobre a matéria, o autarca explicou ser objectivo da câmara incluir “ilhas” actualmente degradadas ou abandonadas no mercado de arrendamento para famílias que procuram casas, seja em regime de renda apoiada (conforme o rendimento do agregado), seja em regime de renda acessível (abaixo do valor de mercado actual).
"Acredito que é possível trabalharmos com os proprietários privados e eles próprios serem os promotores directos, ainda que sempre via câmara, com a câmara como facilitadora no acesso ao financiamento necessário. E acredito que em algumas situações a câmara possa comprar uma ou outra ‘ilha' e recuperá-la", disse Fernando Paulo.
As “ilhas” são habitações operárias típicas do Porto, lançadas no século XIX e constituídas por edifícios unifamiliares no centro da cidade, normalmente com um piso e separadas ou ladeadas por um corredor de acesso à via pública.
No Porto existem 957 “ilhas”, três das quais camrárias, e um universo de 1.000 pessoas a aguardarem atribuição de casa social.
Recentemente o Governo lançou o programa de apoio à habitação 1.º Direito, um diploma que a câmara do Porto espera que se operacionalize e seja um instrumento de apoio na questão das “ilhas” da cidade.
"O 1.º Direito resulta muito do diagnóstico que fizemos a esta realidade das ‘ilhas'. Temos vindo a trabalhar intensamente com o Governo. Legalmente a câmara não pode intervir em propriedade privada, mas com o 1.º Direito está criado um instrumento que permite acesso a financiamento, ainda que os privados não possam recorrer directamente. A câmara tem um papel fundamental", descreveu o vereador da Habitação.
Estado tem que assumir forte investimento – diz Rui Moreira
Durante a sessão, a secretária de Estado da Habitação, Ana Pinho, descreveu o programa 1.º Direito, apontando que o apoio a proprietários terá uma componente de financiamento a fundo perdido (50%) e outra de empréstimo com juros bonificados.
A governante deixou claro que os municípios podem ser "parceiros" dos proprietários e que estes não podem recorrer ao financiamento sem incluírem as câmaras no processo.
O presidente da câmara do Porto, Rui Moreira, apontou que "hoje falar das ‘ilhas' do Porto é um imperativo", defendendo que exista um "catalisador estatal" que permita a reabilitação de alguns espaços.
"Falta fazer muito no trabalho partilhado entre privados, Município e Estado. As ‘ilhas' do Porto precisam de um forte investimento público que o Estado tem de assumir", disse o autarca.