Logo Diário Imobiliário
CONSTRUÍMOS
NOTÍCIA
JPS Group 2024Porta da Frente
Actualidade
Parfois compra edifício Imperial na Baixa à família Amorim

 

Parfois compra edifício Imperial na Baixa à família Amorim

26 de novembro de 2017

Manuela Medeiros, empresária que fundou a bem sucedida cadeia de lojas de complementos de moda e acessórios Parfois, comprou, ao grupo Amorim, o edifício Imperial, localizado na Praça da Liberdade, por um montante de 12 milhões de euros.

De acordo com a edição do Imobiliário, publicado na Vida Económica, A venda do edifício Imperial na Baixa – onde funcionou, durante décadas, ao nível do R/C, o badalado café Imperial, e que foi substituído em finais do século XX pelo restaurante McDonald’s, num processo pouco pacífico, apesar do projecto de adaptação, do arquitecto Alexandre Burmester, ter conseguido preservar o seu interior -, foi iniciada e conduzida ainda pelo empresário Américo Amorim, numa altura em que o mercado não tinha atingido os preços elevados que agora são usuais nas transacções imobiliárias.

De acordo com fontes que conhecem os pormenores do negócio, o empresário Américo Amorim, tinha expectativa de conseguir os 10 milhões de euros pela venda do edifício e, apesar do interesse manifestado por alguns operados, especialmente cadeias hoteleiras, a transacção não se concretizou devido ao preço elevado. Mais recentemente, alguns interessados manifestaram o interesse, contudo o empresário informou-os de que agora o valor de venda já era superior.

O imóvel, que ocupa os números 126 a 130 da Praça dos Aliados, apresenta uma área bruta de 3874 m2, num total de área locável de 3276 m2.

Actualmente, o principal arrendatário é o Café McDonald’s, cujo contrato de arrendamento se iniciou a um de Janeiro de 1995, e termina, possivelmente, em 2020. Este operador paga cerca de 21 mil euros mensais, por uma área de mil m2, ocupando parte significativa da cave e R/c.

O segundo ocupante é uma loja que vende cautelas, situado ao lado do McDonald´s, que paga uma renda mensal de 640 euros, por 160 m2, sendo o contrato de 1938.

Hotel Peninsular no 5º piso

O edifício, que se desenvolve por cinco andares e que apresenta a quase totalidade da área dos andares superiores devoluta, tem curiosamente, ao nível do quinto piso, os escritórios de uma unidade hoteleira, o hotel Peninsular, de duas estrelas. Este piso apresenta um avançado que faz ligação com um outro edifício, onde funciona o hotel, que tem entrada pela Rua Sá da Bandeira. O hotel Peninsular, cuja localização é privilegiada, apresenta uma classificação de Bom (7,4), no site de reservas Booking.com.

O contrato de arrendamento do quinto andar data de 1971, num total de 440 m2 de área e um valor de renda de 348 euros por mês.

Desta forma, o edifício Imperial, cujo destino futuro poderá ser a sua transformação num condomínio residencial, unidade hoteleira, ou simplesmente a sua adaptação para escritórios e lojas – a versão que circula no mercado, mas que não foi possível confirmar -, apresenta, actualmente, uma área total locada de 1587 m2 e uma área devoluta de 1689 m2. No total o edifício Imperial apresenta um rendimento anual em rendas de 259 mil euros.

De acordo com os dados históricos, o edifício Imperial foi inaugurado em 1935, tendo sido projectado por Ernesto Korrodi (1889-1944) e pelo seu filho Camilo Korrodi (1905-1985), com um estilo decorativo de Art Déco que surgiu na Europa, e que predominou na década de 20. No interior destacam-se os frescos do escultor Henrique Moreira e um vitral de Ricardo Leone.

Embora as tentativas, junto do grupo Amorim e da empresária Manuela Medeiros, para confirmar o negócio, os dois grupos não se mostraram disponíveis.

Parfois tem mais de 600 lojas

A Parfois, enquanto marca de acessórios de moda, nasceu em 1994 pelas mãos de Manuela Medeiros, apostando em design próprio e novidades em loja todas as semanas. Oferece uma gama completa de acessórios de moda que incluem malas, porta-moedas, sapatos, lenços, bijuteria, chapéus, malas de viagem, cintos, vestuário entre outros. De acordo com a informação do site, actualmente a Parfois está presente em 53 países com mais de 600 lojas.

Café Imperial foi ponte de encontro durante décadas

O edifício Imperial é um dos mais imponentes imóveis localizados no coração dos Aliados. A fachada do Café Imperial, onde se destaca a águia imperial, foi durante décadas um ponto de encontro privilegiado da sociedade portuense. As poucas referências históricas sobre o edifício destacam a sua decoração em estilo art déco – com frisos em relevo, vitrais coloridos, lustres pomposos do antigo café Imperial.

Aquando da sua inauguração, possuía uma porta giratória, e dominando a entrada figura uma águia Imperial, em bronze, da autoria de Henrique Moreira, que continua a existir.
“No interior, existiam, à entrada, inicialmente, dois balcões. À esquerda, um para a venda de café. À direita, para a venda de jornais e tabaco.
O recinto do café era formado por um salão amplo, que ainda se mantém, com um balcão majestoso ao fundo que ocupava quase toda a largura do recinto.
No piso inferior, existia uma enorme sala de bilhar, posteriormente adaptada a restaurante. No 1º piso um salão discreto, uma Boîte chic, de onde se via o Café, e um Bar com pequeno terraço. O tecto do Bar era de vidro fosco e cristal”.

No salão do Café, as paredes estavam decoradas com espelhos de cristal e por cima destes um friso de baixos relevos em gesso, representando motivos de dança, da autoria de Henrique Moreira, que ainda hoje se mantêm, embora agora patinados a dourado em vez de prateado. Ao fundo, por cima do balcão e a todo o comprimento da parede, um belo vitral da autoria de Leone. Nesse vitral, onde se notam influências de Art Déco, está representado o ciclo do café - colheita do grão, transporte por navio, descarga e finalmente o café servido à mesa.

No início da década de noventa, para fazer face a uma menor utilização, o café foi palco de vários espectáculos de música ao vivo, que ocorriam aos fins- de-semana, e atraíam numeroso público.

“Um quarteirão de surpresas” a precisar de obras de reabilitação

“Há ideias feitas, muitas vezes repetidas, que frequentemente são desmentidas pela realidade. As vistorias aos edifícios deste quarteirão são exemplo plenamente ilustrativo disso. Num primeiro percurso pelo exterior, olhando apenas para as fachadas dos edifícios, pôde construir-se uma imagem que se alterou radicalmente depois de realizadas as vistorias”, é desta forma que a SRU Porto Vivo faz, em 2008, a descrição do quarteirão, no Documento Estratégico para a Unidade de Intervenção do Quarteirão Imperial, como objectivo de avançar para futura reabilitação.

Continua, “de facto o aspeto de conservação da maior parte dos edifícios e o seu R/C comercial não tem correspondência com o estado de degradação dos mesmos prédios. Para a Baixa, ao contrário do Bairro da Sé ou de outras zonas do Centro Histórico, tem sido geralmente admitido que o problema reside, essencialmente, na desocupação, mais do que na degradação. Aqui elas andam de mãos dadas, e apenas a solidez exterior dos prédios ou a pintura das suas fachadas permite mascarar a realidade”.

Acrescenta, “no entanto as surpresas não são apenas as negativas. Quando se entra no quarteirão revela-se a existência de um valioso património arquitectónico, nomeadamente associado à Igreja dos Congregados que é muito mais (em espaço e em arte) do que aquilo que aparece à vista do público”.

O documento elabora pela SRU destaca, “mas as surpresas não se ficam por aqui…uma barbearia/cabeleireiro mantém em bom estado todo o mobiliário e decoração de origem, em mármore, da autoria do arquitecto Marques da Silva (o mesmo da Estação de S. Bento).”

Outra peculiaridade deste quarteirão é a quantidade de “casas-fortes” que existe nas caves de vários edifícios. De facto um grande número de bancos teve as suas instalações nestas ruas (Sá da Bandeira, Sampaio Bruno e Praça da Liberdade). Hoje, apenas a “casa-forte” da CGD (ex. BNU) se encontra a funcionar.

É o próprio documento estratégico que aponto o caminho para o que será o futuro deste quarteirão com uma localização estratégica na Baixa: “acontece que, em termos futuros será difícil admitir que a generalidade das actividades actuais se irá manter com perspectivas de médio ou longo prazo. Pode mesmo constatar-se que a sobrevivência do quarteirão depende profundamente da capacidade de atrair novas actividades e de dar melhores condições a algumas das que lá estão presentes”.

 Avenida dos Aliados atrai grupos de investidores nacionais

A renovação da Avenida dos Aliados, coração da cidade do Porto, segue em bom ritmo e é agora ainda mais evidente que nos próximos anos esta será uma emblemática zona onde vai concentrar-se lojas de marcas

conceituadas de comércio de luxo, novas unidades hoteleiras de quatro e cinco estrelas e habitação de gama alta e que vão ocupar os edifícios que até há poucos anos estavam ocupados pelas instituições financeiras.

As mais recentes aquisições, por parte da família do joalheiro David Rosas – edifício da ex. sede do BES e da Casa Navarro -, junta-se a aquisição, por parte da cadeia Parfois, do edifício Imperial, com o objectivo de aproveitarem parte do espaço, sobretudo a nível do R/C para a abertura de lojas das marcas.

Depois da abertura do hotel Intercontinental, que deu o primeiro passo no investimento hoteleiro de cinco estrelas na Baixa do Porto, neste momento são vários os edifícios que estão com obras de reabilitação, mais ou menos profundas, e que vão permitir albergar espaços comerciais de luxo, como é o caso das lojas de Louis Vuitton e Christian Dior, no edifício da antiga sede do Banif e até alguns anos atrás, ocupado pelo Jornal O Comércio do Porto.

Embora a habitação e o comércio possam vir a ter um peso significativo nos novos investimentos nos Aliados, neste momento, é a hotelaria que está a dar cartas. É o caso do edifício Monumental, onde o empresário Mário Ferreira, da Douro Azul, está a construir um hotel de charme, com 78 quartos, um restaurante, café e loja, num investimento de 12 milhões de euros. Contudo, também a habitação tem o seu espaço neste empreendimento, já que nas traseiras vão ser construídos 20 apartamentos T1 e T2, para arrendar ou vender.

Junto ao edifício Monumental irá iniciar-se em breve as obras no edifício AXA, comprado pelo grupo Gaspar Ferreira, e que será transformado numa unidade hoteleira de cinco estrelas da cadeia Eurostars. Com 144 quartos e três lojas, a nova unidade estará em funcionamento dentro de dois anos.

Também o edifício do Palácio dos Correios, comprado pelo grupo Ferreira, será transformado em hotel e habitação, bem como a antiga sede do FCP, cujo destino final apontado é a hotelaria.

Texto de Elisabete Soares Saraiva