



Muro - Festival de Arte Urbana de Lisboa vai ter lugar no Lumiar
Na zona do Lumiar, em Lisboa, ultimam-se por estes dias os preparativos para a 3.ª edição do Muro - Festival de Arte Urbana de Lisboa, este ano dedicado à música, que decorre entre quinta-feira e domingo.
Depois de edições no Bairro Padre Cruz, em 2016, e em Marvila, em 2017, a Galeria de Arte Urbana (GAU) da Câmara de Lisboa optou pelo Lumiar, mais especificamente a zona envolvente do bairro da Cruz Vermelha e da Alta de Lisboa. O maior festival de arte urbana da cidade desloca-se, pois, para norte e deixará intervenções artísticas na zona compreendida entre a Estrada da Torre, o Bairro da Cruz Vermelha e a Rua José Cardoso Pires.
Neste território, ao contrário dos que acolheram o festival na edição anterior, “há realojamentos, mas também habitação de venda livre” e, para a GAU, era “muito importante dar esse passo nesta 3.ª edição”.
“Desguetizar” o Festival
“Estamos, de alguma forma, a dar um passo para ‘desguetizar’ ou desmistificar a ideia de que só intervimos em bairros sociais ou municipais ou em programas de realojamento, e isso era de facto importante para nós”, afirmou Hugo Cardoso, da GAU, em declarações à Lusa, lembrando que “o plano de urbanização da Alta de Lisboa era criar um programa de realojamento que pusesse em pé de igualdade realojamento e habitação em venda livre”.
Já depois de escolhido o território para acolher o festival – escolha que é feita em parceria com a Gebalis, empresa que gere a habitação municipal em Lisboa -, a GAU apercebeu-se de que ali “praticamente não há empenas [paredes laterais de um edifício, sem aberturas (janelas ou portas)]”. “E isso foi bom, porque obrigou-nos a repensar a forma como vamos intervir no território”, contou Hugo Cardoso, referindo que, nesta edição, as empenas intervencionadas serão apenas cinco.
Embora na primeira edição não tenha havido um tema e no segundo este acabasse por ser ditado pelo facto de o festival fazer parte da programação de Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura, nesta edição, a equipa da GAU percebeu “que era importante haver uma temática que agarrasse toda a intervenção”.
A escolha do tema prende-se com o facto de haver “muitos músicos presentes na toponímia” daquela área, com artérias como Alameda da Música, Rua Ferrer Trindade ou Rua Luís Piçarra.
O tema acabou por permitir “alargar aquilo que é o âmbito da Arte Urbana”, com “intervenções que têm um músico e um artista visual a trabalharem juntos: Peeta e NBC; Third e Tó Trips; Pantónio e Surma”.
A intervenção de Third acontece na Rua Maria Alice, “uma cantadeira de fado dos anos 1930”, cuja história lhe serviu de inspiração. O artista “está a construir a história de Maria Alice, que se desenvolve ao longo de sete prédios, e o Tó Trips tem sete painéis para musicar como se fosse uma história”, contou Hugo Cardoso.
Já o italiano Peeta, “que trabalha muito [a técnica] 3D [três dimensões], está num túnel e vai fazer o túnel saltar lá de dentro”.
Pantónio está a fazer uma intervenção “cheia de movimento, que liga quatro empenas, todas viradas para uma praceta”.
Músicas dos homenageados nos telemóveis...
Durante o festival, adiantou Hugo Cardoso, haverá junto a cada uma destas intervenções “um código que as pessoas podem ler [através dos telemóveis] e ouvir [os temas criados pelos músicos] ou receber uns 'headphones' e, através deles, ouvir as músicas criadas”.
Entre os artistas convidados do 3.º Muro está também o venezuelano Flix, actualmente a residir em Lisboa, cuja intervenção acontece em caixas de electricidade. “São 24 caixas e cada uma representa um país e o estilo de música ligada a esse país - Portugal/Fado, Brasil/Samba, Itália/Tarantela, Venezuela/Joropo”, contou Hugo Cardoso.
Apesar de o festival ter um tema, os artistas têm “total liberdade” para criar.
“Há uma temática base, mas depois qualquer um deles tem liberdade para pensar como quer fazer a intervenção. Não há absolutas restrições e isso permite-nos ter surpresas”, como a escultura, em madeira, de uma fadista, que vai surgir numa rotunda pelas mãos de Glam, ou a intervenção em ferro num tapume do italiano Fulviet.
Além de intervirem no território, os artistas são desafiados a participarem em 'workshops' com a comunidade, que são planeados pela GAU com conjunto com as entidades que trabalham naquela zona.
Todo um programa aberto à participação dos próprios moradores...
“Estamos desde Agosto do ano passado a conhecer o território e trabalhamos muito com todas as entidades que aqui estão”, disse Hugo Cardoso, referindo, a título de exemplo, que a Agência Calipo tem estado “a desenvolver oficinas de cinotipia [processo de impressão fotográfica] e fotografia com a comunidade, muito ligado à associação de moradores do Bairro da Cruz Vermelha, que vai resultar numa exposição na rua”.
Além disso, os elementos da Agência Calipo têm estado, à semelhança das edições anteriores, “a retratar o bairro - o espaço e as pessoas - e isso resulta numa outra exposição”.
Tamara Alves, Utopia e MynameisnotSEM são outros artistas envolvidos nos 'workshops' comunitários.
Além deste trabalho com a comunidade local, nos dias em que decorre o festival haverá 'workshops' abertos a escolas (na quinta-feira e na sexta-feira) e a toda a população (nos dias 25 e 26).
A programação da 3.ª edição do Muro integra ainda visitas guiadas, animação de rua, concertos e a conferência “Arte Urbana e Direito”.
Na lista de artistas que participam nesta edição, além dos já mencionados, estão ainda o argentino San Spiga, o colectivo italiano NSN997, o brasileiro Muzai e os portugueses Miguel Brum, Ozearv, Costah, El Tvfer One, Mosaik, Regg, Samina e Carolina Caldeira.
No âmbito do festival, estão também a decorrer na cidade duas intervenções ‘fora de portas’, uma de Vanessa Teodoro, na zona de Entrecampos, e uma outra de AkaCorleone, no Campo Mártires da Pátria, a primeira em parceria com a EMEL e a segunda com a plataforma Underdogs.
A programação completa do Muro pode ser consultada em http://gau.cm-lisboa.pt.
A GAU foi criada em 2009, como parte de uma estratégia da autarquia lisboeta de, por um lado, valorizar uma expressão artística, e, por outro, valorizar um instrumento de gestão de uma dimensão da cidade.
Lusa/DI