Mediadores preparam-se para as fases de contraciclo do mercado
Com a perspectiva de algum arrefecimento e alterações do mercado, manter-se resiliente, é o segredo para ultrapassar as fases moderadas do mercado, defendem os mediadores.
Francisco Bacelar, presidente da Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal (ASMIP), avança que é expectável que o sector imobiliário em Portugal mantenha crescimento em 2019, embora, podendo apresentar algum arrefecimento, especialmente nos centros das cidades, devido às novas regras do Alojamento Local, tendo em conta que é precisamente nos centros das cidades, sobretudo em Lisboa e Porto em que os preços subiram mais.
Bacelar explica que quando começa a haver sinais de contraciclo no sector imobiliário, se geram dúvidas em relação à estabilidade do mercado. Contudo, afirma que a resposta nunca será conclusiva e está associada ao momento, inclusive a mudanças nas regras, como a do Alojamento Local.
“Nota-se algum arrefecimento, é um facto, mas isso deve-se mais às novas regras do AL e aos locais onde estas são decisivas, ou seja, os centros das principais cidades, pois era também aí que os preços subiam mais. Portanto, nesses locais poderemos assistir a alguma moderação, e em casos muito específicos, algumas descidas”.
Em contrapartida, o sector não se circunscreve a esses nichos. Neste momento, é visível um crescimento da oferta para o segmento médio e médio-alto.
Bacelar assegura que “a procura no segmento médio e médio-alto é grande. A oferta ainda pouca, tem sido crescente ao nível de construção nova, pelo que a conjugação destes dois fatores será importante para manter o crescimento, ainda que ligeiramente mais moderado”.
As novas medidas da SEH (Secretaria de Estado da Habitação) para o arrendamento, também devem ser levadas em consideração, segundo o presidente da ASMIP. Destaca, que as mesmas poderão fazer crescer o investimento para esse efeito, o que será, no final, uma contribuição para que o crescimento se mantenha. “Ponderados todos estes aspectos, creio poder afirmar que o mercado no seu global manterá o crescimento, pelo menos em 2019”, assegura.
Bacelar destaca que, tradicionalmente, o imobiliário é o motor da economia portuguesa. Por isso, quando há crise neste sector, a economia ressente-se e as ondas de choque podem ser graves. “Daí a importância de evitar disrupções abruptas como aconteceu no final da década passada. Pelo contrário a manutenção ou o crescimento do imobiliário permite o optimismo, e por consequência beneficia a economia”, completa.
Prudência nos preços
Adverte, ainda, que manter-se a prudência nos preços também dará hipótese para que uma faixa importante de clientes, até aqui impossibilitada, possa avançar com a aquisição de uma casa. Fato que pode contribuir para o crescimento e para a manutenção da procura, nos segmentos médio e médio-alto. “Mais uma vez será importante levar em conta as medidas fiscais do governo com o intuito de reabilitação, que podem ainda fazer crescer o investimento neste capítulo, e, portanto, cruciais para o sector e para a economia”, afirma.
Manter-se resiliente, é o segredo para ultrapassar as fases moderadas do mercado. Francisco Bacelar actua na mediação há 35 anos. Segundo ele, especialmente nos últimos anos, tem aumentado a procura pela formação dos profissionais da actividade.
“Não era assim no século passado, mas felizmente o interesse é cada vez maior e todos se beneficiam. Desde logo os clientes por serem servidos por profissionais mais capazes e formados, mas também os próprios profissionais e a classe que vê, dessa forma, um justo reconhecimento para o esforço pela aquisição de mais e melhores competências”, acrescenta.
O reconhecimento, por sua vez, é algo decisivo no momento de o cliente fazer a escolha de quem deseja que o sirva. Factor que fará a distinção entre quem procura fazer melhor, e quem se abstém dessa procura, com benefício para os primeiros e provavelmente o afastamento dos segundos.
“Quanto mais depressa perceberem a importância da mudança de atitude, melhor beneficiará o mercado. Por isso, seria importante criar alguma legislação que exigisse, como no passado, a aquisição de créditos em horas de formação, obrigando a que todos os que pretendam ser profissionais da área adquiram as competências necessárias, e só dessa forma possam estar no mercado, a bem deste”, pontua Bacelar.