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Internacional

 

Guerra desacelera crescimento mundial com maior impacto na Zona Euro

28 de março de 2022

A economia da Zona Euro vai ser a mais afetada pela guerra, depois da economia ucraniana e da russa. O estudo da Euler Hermes estima que o PIB da Zona Euro cresça 2,6% neste ano, menos 1,2 pontos percentuais que inicialmente se antecipava no início do ano.

O crescimento económico do bloco da moeda única vai ser afectado especialmente pela forte quebra no comércio entre a Zona Euro e a Rússia. As exportações totais das maiores economias do euro para a Rússia representam menos de 2%, pelo que o impacto global será relativamente moderado. Contudo, alguns sectores que dependem muito de bens oriundos da Rússia ou da Ucrânia – como componentes para a indústria automóvel – deverão enfrentar problemas nas cadeias de abastecimento.

A economia da Alemanha, motor da economia do euro e que tem agora pela frente novas perturbações nas cadeias de fornecimento e preços da energia mais elevados, deverá expandir 1,8% neste ano (menos 1,4 pontos percentuais do que inicialmente se antecipava) e 1,6% (menos 0,8 pontos percentuais) em 2023. O PIB da França deverá crescer 3% em 2022 (menos 1 ponto percentual) e 1,5% (menos 0,4 pontos percentuais) no próximo ano.

Ainda entre as principais economias do bloco do euro, a Itália deverá assistir a uma subida de 2,6% do PIB neste ano (menos 1,4 pontos percentuais do que inicialmente se antecipava) e 1,2% no próximo ano (menos 0,9 pontos percentuais). A economia espanhola, por sua vez, deverá expandir 3,9% (menos 1,6 pontos percentuais) em 2022 e 1,9% em 2023 (menos 1,4 pontos percentuais).

De um modo global – e de acordo com o cenário base da líder mundial em seguro de créditos – em 2023 a economia do euro deverá avançar 1,6% (menos 0,7 pontos percentuais).

Quanto à inflação, as previsões foram revistas em alta. As estimativas apontam agora para uma inflação de 5,5% em 2022 na Zona Euro e de 2,5% no próximo ano, refletindo a subida dos preços dos bens alimentares e da energia.

EUA e China menos penalizadas

As estimativas da Euler Hermes para a economia norte-americana também foram revistas, devendo a maior economia do mundo expandir 3,3% em 2022 (menos 0,6 pontos percentuais que na anterior estimativa) e 2,6% no próximo ano (menos 0,2 pontos percentuais).

O impacto do conflito na economia norte-americana deverá fazer-se sentir por via da confiança dos consumidores, que poderá ser abalada, e pelo impacto que a subida dos preços do petróleo vai ter para a economia.

A economia chinesa também deverá crescer menos que o esperado anteriormente. A Euler Hermes estima que o PIB real da China avance 4,9% (menos 0,3 pontos percentuais) em 2022 e 5% no próximo ano. A revisão em baixa das perspetivas económicas para este ano da segunda maior economia do mundo reflete tanto pressões internas como externas. Em termos domésticos, a propagação da variante Ómicron, no âmbito da política de zero-Covid da China, vai pressionar a recuperação da procura interna. Por outro lado, a subida dos preços das matérias-primas, devido à invasão da Ucrânia, pode colocar pressão sobre os setores industriais exportadores.

Recessão na Rússia

As implicações do conflito na Ucrânia vão pesar na economia russa, que deverá enfrentar uma recessão de 8% neste ano, antecipa o estudo da Euler Hermes. A contração da economia russa é explicada nomeadamente pela grave deterioração das condições macroeconómicas, em especial depois da imposição de sanções que abrangem inclusivamente o setor energético. A desvalorização do rublo continua e a inflação está em alta.

Factura energética das famílias pode disparar 30 mil milhões

A escalada do conflito entre a Rússia e a Ucrânia tem também impacto na disponibilidade e no preço das matérias-primas. Os dois países são produtores de várias commodities – como petróleo, gás, trigo, milho e sementes de girassol –, representando mais de 10% das exportações destes bens à escala global, e a guerra tem provocado volatilidade e subida dos preços.

A Euler Hermes estima que os preços do petróleo devem continuar acima dos 100 dólares por barril enquanto o conflito se mantiver e que, possivelmente, em média, neste ano, a cotação rondará os 120 dólares por barril. Os preços do gás devem também continuar elevados, próximos dos 140 euros/MWh.

A accionista da COSEC estima que as famílias na UE vão ter pela frente faturas energéticas mais elevadas (entre 20 a 30 mil milhões de euros a mais nas maiores economias europeias), tendo em conta os preços atuais do petróleo e do gás, que podem aumentar 50 mil milhões de euros, ou 2% do PIB, caso a Rússia interrompa as exportações de petróleo e gás (tanto fruto de embargos como de medidas de retaliação).

A diminuição da confiança das empresas, por outro lado, vai pesar no investimento. As margens das empresas vão continuar a ser reduzidas num contexto de preços de energia elevados e de alta das matérias-primas não energéticas, subida dos custos salariais e dos custos de transporte.