
Covid-19: Efeito dominó das escrituras pode colapsar o mercado
Milhares de portugueses que fizeram reservas de imóveis e firmaram contratos promessa de compra e venda nas últimas semanas, não sabem quando podem realizar as escrituras.
De acordo com a consultora Imovendo, a pandemia já obrigou a que profissionais e empresas de mediação imobiliária deixem a actividade, uma vez que só na última semana de Março, a procura online (com peso de 90%) já recuou 57,5% é o expectável adiamento de milhares de escrituras nos próximos dias e semanas.
"Há milhares de portugueses que fizeram reservas de imóveis e firmaram contratos promessa de compra e venda nas últimas semanas e que poderão estar viver hoje um verdadeiro drama, pois estão dependentes da realização de escritura de venda da sua actual casa, para que aqueles processos possam ser concluídos... é um efeito dominó que poderá arrastar para situações, em alguns casos, insustentáveis milhares de famílias!", alerta Manuel Braga, CEO da empresa.
A consultora indica ainda que associada à questão das escrituras, vão surgir igualmente situações em que muitas pessoas ou famílias que fizeram contratos de compra e venda há 30 dias atrás hoje, com o estado de emergência decretado em Portugal, não conseguirão realizar a escritura da sua nova casa e vêem os seus contratos de arrendamento a terminarem, sem ter para onde ir.
Sublinha também que, com a ausência de vendas, os consultores imobiliários que se dedicam à actividade a tempo inteiro, e mesmo os que se encontram apenas em part-time perderão necessariamente uma parte substancial do seu rendimento e, como tal, tornar-se-á extremamente difícil para uma parte significativa destes profissionais manterem-se em actividade.
"Não só as imobiliárias que vivem de 1 ou duas transacções por mês não aguentarão dois ou três meses sem vender, como, por outro lado, haverá profissionais obrigados a sair do sector, sobretudo aqueles que se dedicam de forma exclusiva ao imobiliário e que tenham rendimentos inferiores a 25.000 euros", refere o responsável.
A Imovendo refere outro factor consequente desta situação, prende-se com a gradual baixa de preços dos imóveis no pós COVID-19, que resultará de múltiplos factores e que dificilmente será invertida até ao final do ano.
"Já seria de esperar que os proprietários tivessem necessariamente de baixar os preços, numa fase pós-pandémica, mas todavia, tal será pressionado de forma ainda mais significativa, pelo facto de parte dos activos actualmente colocados no mercado de Alojamento Local, dado o colapso que esta actividade sentiu, serem agora colocados à venda, num curto espaço de tempo e com alguma urgência no seu escoamento", explica Manuel Braga.
A imovendo diz ainda que após a crise COVID-19, sem fim à vista, a procura vai diminuir e será diluída. "Os investidores nunca regressarão em força ao mercado, uma vez que mesmo com o gradual retorno à normalidade, a aquisição de uma (nova) habitação própria permanente não será uma prioridade e tal fará com que os compradores fiquem expectantes de sucessivos ajustamentos em baixa dos preços dos imóveis... e por este motivo será de esperar que os preços caiam ainda mais!", antecipa Manuel Braga. A consultora antevê 12 meses difíceis pela frente, sublinhando que não há procura nos próximos dois meses e a recuperação poderá iniciar-se, se tudo correr bem, em finais de Maio, sendo que, por cada mês que passe, serão sempre precisos mais dois para se iniciar a retoma.
"Neste novo ciclo que agora se inicia, a definição do preço correcto a colocar o produto imobiliário no mercado, bem como a utilização das ferramentas mais adequadas para se atingir a procura existente serão factores críticos de sucesso, bem como o será a necessária diminuição das comissões cobradas pelos profissionais do sector, de modo a garantir uma maior fluidez no mercado", conclui a consultora.