A próxima década será marcada pela “Hotelização” do mercado imobiliário
Os próximos dez anos vão ser marcados pela “Hotelização” do mercado imobiliário, significando a reinvenção do residencial, do retalho e dos espaços de trabalho com base nos princípios da hospitalidade e hotelaria.
De acordo com o Global Outlook 2030 - The Age of Responsive Real Estate, o mais recente estudo da consultora imobiliária CBRE que analisa as 10 grandes tendências e desafios do sector para a próxima década, o mercado de trabalho até 2030 será mais fluído, em alternativa ao ‘local fixo’, desbloqueando a produtividade, crescimento e criatividade. Até 2030, e pela primeira vez na História, quatro gerações ocuparão o local de trabalho simultaneamente, desde os Baby Boomers - nascidos entre 1945-1964 – à sendo a geração Z, que nunca conheceu um mundo sem tecnologia, responsável por 1/3 da força de trabalho, trazendo específicos desafios às empresas.
O estudo revela ainda que o retalho será ainda alvo de uma verdadeira revolução pautada pela convergência entre o comércio online e redefinição do significado da palavra “loja”. Nesta senda rumo a 2030 vão surgir novas geografias no radar das “Boomtowns”, ou seja, cidades com um aumento repentino de dimensão e actividade económica.
O Global Outlook 2030 indica que ao nível do investimento, 2030 será pautado pela ascensão das máquinas: a inteligência artificial vai permitir o advento de PropTech – empresas tecnológicas no sector imobiliário -, revolucionando a maneira como os imóveis são avaliados, comprados, vendidos e geridos. As residências multifamiliares vão pautar os investimentos da próxima década e, pela primeira vez um quarto dos investidores a nível mundial apontaram o sector residencial como o perfil de activo eleito, superando os escritórios. Várias tendências económicas, tecnológicas e demográficas apontam ainda a região Ásia-Pacífico como a melhor posicionada para estar na vanguarda da economia global até 2030.
No sector residencial, os proprietários estão a adoptar o estilo de “hotelização” através de aplicações que ajudem na manutenção da casa, como lavandaria, entrega de mercearias, cuidados para animais de estimação, serviço de conciérge ou mesmo entrega de flores. Ou seja, as habitações estão a tornar-se mais próximas de um hotel, mesmo que pareçam efectivamente um lar. Esta mudança deve-se ao advento do aluguer de imóveis de curto prazo que, numa década, criaram 6 milhões de novos quartos e só em 2018 geraram receitas de 127 mil milhões de dólares em todo o mundo. Assim, a CBRE prevê que esta tendência chegue ao patamar da consolidação em 2030, com investidores e operadores a comprar lotes de imóveis para habitação, mas administrados e comercializados como mini-cadeias de hotelaria.
Ásia e Pacífico vão dominar economia global
Quanto ao investimento, várias tendências económicas, tecnológicas e demográficas posicionam a Ásia-Pacífico como potencial líder na vanguarda da economia global até 2030 e não só pelo surgimento da Geração Z. Na próxima década, projecta-se que os países asiáticos tenham quatro das dez maiores economias do mundo, de acordo com a Oxford Economics. E pode acontecer o tão esperado salto da China, que ultrapassará os EUA, com um PIB previsto de 24 triliões de dólares. Apesar das recentes tensões comerciais, o mundo ocidental procurará permanecer ligado à Ásia, devido ao crescimento dos seus mercados.
Segundo as Nações Unidas e a CBRE, a Ásia também vai ser alvo da maior e mais rápida taxa de urbanização do mundo, com 414 milhões de pessoas a migrarem para as grandes cidades, até 2030. Para acompanhar este boom, a CBRE estima que os governos asiáticos invistam 23 triliões de dólares em infraestruturas de transportes, até 2040. Isso vai ter um efeito profundo no sector imobiliário, pois a quota da Ásia nas propriedades mundiais aumentará devido ao crescendo da construção, crescimento económico mais rápido, maior transparência e liquidez e procura sustentada dos investidores devido às altas taxas de poupança.
Os activos multifamiliares estarão no epicentro do investimento imobiliário. As populações urbanas estão a crescer e as cidades estão a procurar melhorar a habitação, o trânsito, o meio ambiente e a sustentabilidade. A CBRE estima que até 2030, provavelmente cerca de 2 mil milhões de pessoas viverão em casas arrendadas, inspiradas pelo modelo norte-americano. Para satisfazer a procura, as moradias multifamiliares de propriedade institucional serão responsáveis por um quinto do volume global de investimentos e o capital transfronteiriço ajudará a impulsionar a mudança.
Segundo o estudo de 2019 Global Investor Intentions Survey da CBRE, um quarto dos investidores apontou o sector residencial como o eleito, superando os escritórios pela primeira vez. Em muitos casos, os investidores americanos estão a impulsionar a expansão global, com o objectivo de atingir a Grã-Bretanha, e os da região asiática demonstram também um forte interesse. O Japão é considerado um dos maiores e continuará a assistir a um alto nível de investimento em habitações multifamiliares, registando os 2,4 mil milhões de dólares em volume de negócios de apartamentos em 2019, segundo Real Capital Analytics.
Activos destinados a multifamily encontrarão oportunidades em projectos inovadores
Do ponto de vista do desenvolvimento, os investidores em activos destinados a multifamily encontrarão oportunidades em projectos inovadores que combinam um design mais vertical e denso, com menos terreno, mas com recursos de sustentabilidade de ponta, um tema comum em projectos pioneiros de todo o mundo. Na cidade holandesa de Utrecht, um complexo de apartamentos chamado MARK tem 1.000 unidades programadas para serem concluídas até 2023. O empreendimento, neutro em carbono, inclui estufas para fornecer comida aos residentes, bem como um restaurante na cobertura. Painéis solares produzirão energia suficiente para abastecer o prédio, enquanto os moradores podem usar um serviço de partilha de carros eléctricos ou guardar a bicicleta. Além disso, cerca de 60% das unidades serão reservadas para apartamentos de baixa renda e idosos.
A directora de Research da CBRE Portugal, Cristina Arouca, salienta que “Até 2030, os edifícios serão alvo de uma verdadeira revolução tecnológica e até ideológica, tendo impacto directo na forma que os mesmos são utilizados e negociados. Inovações como inteligência artificial (IA), carros autónomos, a última geração de telemóveis na nossa mão, a aceleração da informação, comércio electrónico a disparar, a força de trabalho da Geração Z daqui a dez anos e até mesmo o impacto pós-Coronavírus, o chamado New Normal, terão uma enorme influência na recalibração da nossa cultura, negócios e política. Se este era o caminho que estava a ser desenhado, agora, mais do que nunca será acelerado”.