A “Ilustre Casa de Ramires” está à venda por 990 mil euros
A famosa Casa da Torre da Lagariça, em São Cipriano, freguesia do concelho de Resende, que se julga serviu de inspiração ao romance “A ilustre Casa de Ramires”, de Eça de Queirós, está à venda por 990.000 euros.
O imóvel – cuja operação de venda é conduzida pela REMAX PRO, e está anunciado no Idealista -, foi classificado de interesse público pelo Decreto n. o 129/1977, de 19 de Setembro.
De acordo com António Trindade, consultor da REMAX PRO, esta propriedade é constituída pela casa, com 700 metros quadrados (m2) de área útil, divididos em 20 assoalhadas, e por uma quinta, com campos de cultivo e árvores de fruto.
A casa está há quatro séculos nas mãos da família Cochofel, que tem a nunca tencionou desfazer-se da propriedade, tendo procurado soluções para rentabilizar a propriedade. Contudo, neste momento, não tem verbas suficientes para a mandar arranjar o imóvel. Segundo António Trindade, a família ainda tentou rentabilizar o terreno, mas nenhuma das iniciativas levadas a cabo pelos herdeiros deu frutos. A quinta está desabitada há dez anos, desde que a matriarca da família, Ana da Glória Marques, teve de a abandonar por causa da idade já avançada (tem atualmente 82 anos). Nos últimos anos a casa da Torre da Lagariça começou a deteriorar-se e hoje encontra-se em avançado estado de degradação
Miguel Cochofel, um dos herdeiros, disse à Antena 1, que chegaram à conclusão de que “está na hora de nos separarmos disto”, descrevendo a decisão de vender a quinta onde passou todas as férias desde que tinha sete anos como “dolorosa”.
Autarquia não dispõe de condições
O autarca Manuel Garcez Trindade, em declarações ao Observador, lamenta que a Câmara Municipal de Resende não possa ajudar, mas “o município não dispõe, neste momento, de condições para assumir responsabilidades na requalificação” da casa.
“Isto ultrapassa as possibilidades do município, por muito boa vontade que nós tenhamos em querer ajudar a resolver a situação”, referiu ao site.
A Casa da Torre da Lagariça só pode ser intervencionada depois de o projecto ser aprovado pela Direcção Regional de Cultura do Norte (a quem cabe emitir um parecer indicativo porque Resende está na sua área de influência) e pela Direção-Geral do Património Cultural (a quem cabe emitir um parecer vinculativo e tomar a decisão final) e têm sempre de ser mantidas as suas características originais.
Isso “faz com que os proprietários tenham dificuldade em fazer as manutenções por causa do custo”. Se fosse uma “manutenção normal”, tudo seria diferente, explica António Trindade.
A construção da Torre da Lagariça data da primeira metade do Séc. XII
Construída provavelmente na primeira metade do século XII, a Torre da Lagariça, como é conhecida, terá tido como função original a defesa da linha do Douro durante o período da Reconquista. Com o estabelecimento das fronteiras portuguesas mais a norte, acabou por perder o interesse militar (até aí teria funcionado como torre de atalaia), vindo a ser adquirida pelos Pintos, senhores da Torre Chã e do Paço de Covelas, no século XVI.
A história dos Pintos, que descendem de Paio Soares Pinto, está intimamente ligada com a fundação de Portugal. A filha do fundador da linhagem, Dona Maior Pais Pinto, foi casada com Egas de Mendes de Gundar, que combateu na Batalha de Ourique às ordens de Afonso Henriques.
Dos Pintos da Torre Chã, a Torre da Lagariça passou, em 1610, para outra família, a Cochofel, através do casamento de D. Briolanja Pinto com Gonçalo Martins Cochofel.
Joaquim Correia Duarte, professor e historiador, no primeiro volume de Resende e a sua História, explicou que a origem dos Cochofel também está na época medie-val — Gonçalo era trineto de Martin Gil Cochofel, alcaide-mor de Penagracia que terá vivido na década de 1280. Martin Gil é o primeiro Cochofel que se conhece.
Foi na posse dos Cochofel, aos quais a torre ainda pertence, que começou a ser adaptada à habitação, em inícios do século XVII, sem que, contudo, se alterasse a sua forma e estrutura originais. A casa de linhas austeras que existe hoje é mais ou menos a mesma que, diz a história, Eça de Queiroz terá encontrado quando visitou Resende em finais do século XIX.
E terá ficado tão impressionado com o que viu que decidiu usá-la como modelo para A Ilustre Casa de Ramires. Pelo menos é isso que tem vindo a ser defendido ao longo dos tempos por investigadores e historiadores, nomeadamente por Edmée Fonseca, autora do estudo “L’Ilustre Maison de Ramires et son cadre”, publicado nos anos 70.
Artigo de Elisabete Soares /VE
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