CONSTRUÍMOS
NOTÍCIA
Actualidade

Rua Rosa, Cais do Sodré, Lisboa - @Ted McGrath, Flickr

A mítica Rua Rosa, em Lisboa, vai mudar de cor para dar vida à Yellow Street

19 de julho de 2024

De 23 a 28 de Julho a mítica Rua Rosa, por muitos conhecida por Pink Street, em Lisboa, muda de cor para dar vida à Yellow Street, para assinalar uma semana dedicada à luta contra a Hepatite C.

Segundo os últimos dados recolhidos pela Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, a Hepatite C afeta 70 milhões de pessoas no mundo. Todos os anos, morrem cerca de 400 000 pessoas por cirrose e cancro do fígado em consequência desta doença viral.  Em Portugal, ainda existem cerca de 40 mil pessoas infetadas, sendo que cerca de 80% não sabem que o estão.

Seguindo esta máxima, a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, com o apoio do Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT), entidade coordenadora de iniciativas como a European Testing Week* e promotora da rede de rastreio comunitária, e da Câmara Municipal de Lisboa, juntamente com a AbbVie, lançam uma campanha com o objectivo de sensibilizar a população para a importância da testagem da Hepatite C no nosso país, que pretende, não só quantificar o real impacto dos números da Hepatite C, mas também alertar a população portuguesa para os perigos desta doença.

Esta iniciativa conta ainda com o apoio de entidades de referência na área da saúde pública como a Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF) e o Grupo de Estudos Português da Coinfeção (GEPCOI).

Durante uma semana, entre os dias 23 e 28 de Julho, Lisboa “veste-se com novas cores” para assinalar o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais (28 Julho):

Uma das ruas mais emblemáticas da cidade de Lisboa, Rua Nova do Carvalho, conhecida por Rua Rosa ou Pink Street, de forma simbólica “vestirá”, entre os dias 23 e 28 de julho, o amarelo de forma a assinalar a celebração de um dia dedicado à eliminação da Hepatite C. Durante os seis dias alusivos à iniciativa, para além de postos de testagem gratuitos para a Hepatite C e a distribuição de folhetos informativos sobre a doença, a habitual cor do chão e dos guarda-chuvas decorativos característicos, em tons rosa, serão substituídos pela cor amarelo (símbolo cromático da campanha de sensibilização). Serão ainda colocados mupis e outros elementos decorativos que darão uma nova cor a uma das ruas mais movimentadas da capital. Desta forma, para além da nova decoração, quem passar pela Yellow Street será impactado com informação relevante sobre Hepatite C.

Pedro Narra Figueiredo, Presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, refere que “A mensagem a transmitir é que a hepatite C é, atualmente, tratável e curável. A ausência de diagnóstico precoce e respetivo tratamento pode originar uma evolução para cirrose e, posteriormente, para cancro do fígado.

É no contexto das consultas que decorrem nos Centros de Saúde que o apurar da história clínica, através de uma boa relação médico/doente, pode permitir ao paciente sentir que pode informar o médico que no passado consumiu drogas por via endovenosa com partilha de seringas. Perante esses antecedentes, o pedido de enzimologia hepática e de serologia viral é obrigatório.

Neste contexto, pensamos que é possível cumprir a meta de eliminação da hepatite C até 2030. De facto, o aumento da capacidade de diagnóstico através da sensibilização dos médicos de família e dos utentes para esta doença, com enfoque particular entre os toxicodependentes e entre a população prisional, é fundamental. Perante os casos positivos, a referenciação aos hospitais para que, atempadamente, estes doentes possam ser tratados é, também, determinante. Ao contrário do que acontece com a hepatite B, não está disponível uma vacina para a hepatite C. Caso tal venha a ser possível, seria, seguramente, um passo decisivo para alcançar o objectivo proposto”.

Para o Professor Guilherme Macedo, Presidente do Colégio de Especialidade de Hepatologia da Ordem dos Médicos, “o Dia Mundial das Hepatites víricas é uma efeméride de grande relevo no nosso país. Num mundo onde há 3 milhões de pessoas infetadas com o vírus B e vírus C e onde há mais de 2 milhões de novos casos por ano, importa compreender o que Portugal tem feito e está disposto a fazer para ultrapassar este descalabro sanitário. Sabe-se que 20% da população mundial não se encontra atualmente no seu país de origem e, na realidade, Portugal passa justamente pela mesma experiência migratória, pelo que este facto adiciona uma nova circunstância epidemiológica que há que considerar. As hepatites víricas têm estado, injustamente, fora dos holofotes mediáticos mais recentes, quando reconhecemos que há necessidade de reorganizarmo-nos e estabelecermos planos definitivos para cumprir as metas com que nos comprometemos com a Organização Mundial de Saúde até 2030.

Para o Professor Guilherme Macedo o caminho para erradicar estas doenças é ainda bastante árduo e salienta que, “há ainda muito por fazer para conseguirmos a eliminação da hepatite C. A simplista conjugação das boas vontades de várias instituições hospitalares e de organizações não-governamentais, não é suficiente para conseguimos uma arquitetura eficiente para esse objetivo. A adoção de uma estratégia organizada com objetivos bem determinados e com passos intermédios bem definidos, serão a solução para este enorme problema de saúde pública, atualmente adormecido na voragem de múltiplas outras questões políticas. Significa termos de despertar para a realidade antes da realidade inexoravelmente nos ultrapassar.

Ricardo Fernandes, em representação do Grupo de Ativistas em Tratamentos, acrescenta que “esta iniciativa é um exemplo da estratégia de rastreio que deve ser intensificada no nosso país, especialmente nas comunidades mais afetadas, que é fundamental na identificação de pessoas infetadas para o cumprimento do objetivo de eliminação da hepatite C até 2030, com a qual Portugal se comprometeu”.