Logo Diário Imobiliário
CONSTRUÍMOS
NOTÍCIA
JPS Group 2024Porta da Frente
Opinião
Mariana Morgado Pedroso, Directora Geral da Architect Your Home

Mariana Morgado Pedroso, Directora Geral da Architect Your Home

Simplex Urbanístico – foco no essencial

15 de fevereiro de 2024

Já quase volvido um mês sobre a chegada do D.L. 10/2024 e depois de leituras atentas da própria legislação, mas também após consumir muitas horas em conferências, workshops, encontros e debates promovidos pelas várias associações do sector, fica a noção de que vamos demorar tempo a habituar a uma tão grande transformação.

São 10 os diplomas directamente afectados por este D.L. e é quase preciso um guia ilustrado para se conseguir encontrar o caminho por tantas alterações.

Consegue ler-se que o governo pretende introduzir uma mudança profunda no paradigma do planeamento e gestão urbanística. E parece que o que motiva isso é uma tentativa de contribuir para o fim da crise na habitação, mas os mecanismos que rodeiam estes temas já estão tão intricados e “encrencados” que não é fácil desenrolar o novelo.

Serão necessárias algumas revisões até se ter a fórmula certa, mas o que transparece no sector é que temos de olhar com muito optimisto para esta tentativa de controlo de prazos, responsabilização das partes e alívio da burocracia. E esse tem de ser o nosso foco.

Esta mudança, por ser tão grande, será necessariamente gradual, sendo que a que mais antecipo enquanto arquitecta é a harmonização dos procedimentos camarários a nível nacional, em especial no que concerne aos elementos instrutórios dos procedimentos e a revogação do RGEU.

Será que finalmente vão acabar as 308 plataformas diferentes?  A criação de uma plataforma única é um sonho adiado que parece já ter luz ao fim do túnel.

Em cada projecto desenvolvido o arquitecto tem de assegurar que cruza a informação da legislação nacional e da sua prática profissional com a do Regulamento do PDM e o RMUE de cada Câmara para ter a certeza de abarcar todas as regras e regrinhas. Se não houver o crivo da análise de projecto pelos serviços municipais, penso ser impossível ter o Dono de Obra ou os projectistas a necessária capacidade de leitura informação disponível para obter um projecto que seja à prova de bala.

A única coisa que se pedia era que se cumprissem prazos de análise. Ora, o Simplex vem tentar que seja menos kafkiano o processo, veremos se conseguimos. E mantenhamos o foco nisso.

Vale a pena referir que teremos de ter consciência do elevado grau de responsabilização que isto porá sobre todos os intervenientes fora das entidades reguladoras: projectistas, donos de obra e construtores (na verdade já o são... apenas não o sentem tanto pois passam pelo crivo da análise de projecto na câmara), e que no futuro poderá haver mais situações de alterações sem controlo de projectos, e execução de obras em desconformidade com os mesmos projetos.

Tenho igualmente muita curiosidade pelo também muito aguardado Código da Construção pois aí veremos também guias orientadoras que serão essenciais para a uniformização da qualidade construtiva.

Agora, ao deixar de existir a fase de controlo na fase de projecto, e com a abolição da Autorização de Utilização, espero não termos obras executadas sem qualquer correspondência com os projetos submetidos em sede de comunicação prévia. De volta à responsabilização e foco na qualidade dos intervenientes.

No curto prazo, o que se antecipa é que do lado dos projectos a solução passará certamente pela submissão de PIP’s para garantir algum tipo de análise e aprovação pela Câmara, já que esse instrumento se mantém existente, podendo assim o requerente garantir algum tipo de análise – mantendo o papel essencial da Câmara em todo este processo.

Agora, é tempo de aprender novas regras e adaptar os processos. Vamos a isso!

Mariana Morgado Pedroso

Directora Geral da Architect Your Home