CONSTRUÍMOS
NOTÍCIA
Habitação by century 21

Imagem de robertaastolfi0 - Pixabay

Proprietários dizem que ’Mais Habitação’ "falha" e que vão lutar nos tribunais

13 de março de 2023

A Associação Lisbonense de Proprietários (ALP) considera que o 'Mais Habitação' contém medidas "inaceitáveis" avisando que irá bater-se pela fiscalização da constitucionalidade caso sejam aprovadas, e lamenta que o programa ponha fim ao Balcão Nacional do Arrendamento.

Na posição que a Confederação Portuguesa de Proprietários (CPP) e a ALP (que preside à CPP) fizeram chegar no âmbito da consulta pública do programa Mais habitação, referem que este "falhou" no objectivo de conquistar a confiançaa dos proprietários e alertam que desde que o programa foi divulgado, muitas casas foram já retiradas do mercado de arrendamento.

Caso algumas destas medidas avancem, dizem, "irão bater-se pela fiscalização" da sua constitucionalidade, apontando os casos do arrendamento forçado de imóveis devolutos ou da manutenção do congelamento dos arrendamentos anteriores a 1990 (as chamadas rendas antigas).

"A ALP e a CPP informam o Governo que aconselharão todos os proprietários a contestar nos tribunais e até nas instâncias internacionais qualquer tentativa de arrendamento forçado dos seus imóveis", considerando que tal "constitui um grave atentado ao seu direito de propriedade enquanto direito humano fundamental", lê-se na posição destas duas entidades.

Antes de equacionar este tipo de medidas, refere a mesma informação, o Estado devia cuidar de saber o motivo por que estas casas de privados se encontram devolutas, e lembra que um dos motivos são as heranças indivisas, sugerindo uma simplificação dos processos de inventário.

Relativamente à  manutenção dos arrendamentos antigos (e que não transitaram para o novo Regime do Arrendamento Urbano - NRAU) consideram que a medida é "inaceitável e inconstitucional", lesando os direitos adquiridos dos proprietários e questionam o facto de a proposta de lei do Governo proteger inquilinos com rendimentos superiores aos dos senhorios.

A ALP pega ainda neste caso da manutenção dos contratos antigos para acusar o Governo de hipocrisia, indicando que neste caso se protegem famí­lias com rendimentos mensais até 4.430 euros, enquanto na medida de apoio às rendas (para quem tem taxas de esforço acima de 35%) se prevê que estes sejam atribuí­dos apenas a inquilinos com rendimentos mensais até 2.700 euros.


Imagem de Dirk van Gestela

A imposição de um limite de 2% na actualização das rendas que estiveram arrendadas nos últimos cinco anos é outra das medidas criticadas pela CPP e ALP que a apelidam de "imponderada" e "populista", sublinhando que a mesma não poderá ser aplicada de forma cega, tendo de ter cláusulas de salvaguarda para situações como a realização de obras, entre outras.

Acentuando que o incumprimento no pagamento das rendas é um "flagelo", a que somam "actos de vandalismo" e "o assédio" por parte dos arrendatários aos senhorios, a CPP e a ALP entendem que as mudanças previstas para o Balcão Nacional do Arrendamento vão fazer com que este perca toda a sua eficácia e que o pagamento de rendas em atraso pelo Estado vai estimular o incumprimento.

"Apesar da mudança de nome, o Balcão perderá toda e qualquer relevância ao passar a exigir-se intervenção judicial, em caso de ausência de resposta do arrendatário à notificação, o que tornará redundante o recurso ao Balcão, preferindo os proprietários ir logo para Tribunal", alertam os proprietários, sublinhando que o facto de se procurar aproximar o regime ao do Código de Processo Civil "retirará toda a sua utilidade".

A CCP e a ALP detêm-se também sobre as medidas que visam o alojamento local, apontando a diferença de tratamento que é dada às licenças das casas compradas com recurso a crédito e as que não têm hipoteca.

"É inaceitável a proteção que é sempre garantida aos bancos: Governo não retira licenças de AL aos imóveis que têm hipoteca, mas aos proprietários individuais sim", lê-se no documento.

Sobre a vertente fiscal do 'Mais Habitação', e embora se congratulem com algumas medidas, consideram que outras são insuficientes, como a descida da taxa de IRS sobre as rendas, que o Governo se propõe baixar de 28% para 25%, lembrando que devido à  fixação do limite de 2% para actualização das rendas em 2023, a taxa do imposto já será este ano de 25,4%.

A consulta pública da parte do 'Mais habitação' que prevê a criação de apoios aos inquilinos e às pessoas com créditoà  habitação terminou hoje, estando prevista a aprovação desta vertente do programa no Conselho de Ministros da próxima quinta-feira.

Em 24 de Março termina a consulta pública do restante programa (que contempla medidas que terão de ser remetidas pelo Governo ao parlamento), que vai a Conselho de Ministros no dia 30 deste mês.

Lusa/DI