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Imobiliário à la carte

28 de junho de 2021

Um dos erros mais comuns que acontece a quem recorre aos serviços de um consultor imobiliário é achar que todos os consultores são iguais, que todas as agências fazem o mesmo e que o nosso trabalho se limita a fazer uns telefonemas, pôr umas placas e anunciar online o activo que acabámos de angariar. E, se tal acontece, os primeiros (e talvez únicos) responsáveis somos apenas nós próprios.

Tenho escrito e repetido que, como o sector não se dá ao respeito, dificilmente pode tentar impor que lhe respeitem. E, se a indústria não se dá ao respeito, é porque, para quem vê de fora, parece que tudo se aceita e tudo é possível ser feito para angariar o imóvel e/ou o cliente. Ao mesmo tempo, há zero triagem aos consultores que trabalham na agência (não interessa a qualidade, mas sim a quantidade) e subverterem-se as regras mais básicas do bom-senso, da boa educação e do trato social. Entre nós e para com terceiros.

Apesar de tudo o que acima referi (ou talvez por causa disso mesmo), considero que, em termos laborais, o imobiliário será, talvez, o sector mais democrático para se trabalhar. Não estou a ser irónico, a sério que não. Este é uma área de actividade onde toda e qualquer pessoa pode entrar, experimentar e tentar ter sucesso.

É de tal forma abrangente que em muitas agências não há qualquer critério de triagem em relação a quem irá representar a marca na rua (com todas as vantagens e inconvenientes que esta opção pode trazer, obviamente).

É de tal forma abrangente que, quem assim o desejar, pode arriscar a enveredar por este caminho através de uma licença AMI própria, que não é assim tão difícil de obter.

E é de tal forma abrangente também porque, como sabemos, há ainda os casos dos profissionais que enveredam por uma vertente mais empresarial do negócio e, como tal, precisam tanto de uma licença AMI como os esquimós precisam que lhes vendam gelo.  

É também por isso que me choca e surpreende – sim, ainda me consigo surpreender no imobiliário – que passemos metade do nosso tempo a tentar enganarmo-nos uns aos outros (e, às vezes, também os clientes), dando uma péssima imagem do sector. Interna e externamente.

Percebam isto, de uma vez por todas: há lugar para todos, desde que todos saibamos fazer um bom trabalho e respeitar o próximo. E isso aplica-se a quem gosta de apostar no mercado imobiliário puro e duro, para quem aposta nos imóveis acima dos 250k, para quem prefere os abaixo dos 250k ou para quem se especializou nos negócios de seis dígitos.

O meu ponto é este: aqui chegados a esta actividade – porque, como sabemos, serão talvez poucos os que acordaram um dia de manhã sem saber o que iam fazer à sua vida e decidiram, à cabeça, experimentar serem consultores imobiliários – convém ter sempre presente que existe tudo de bom e tudo de mau por aqui. E, por ser um sector abrangente a vários níveis, todos nós devemos ter a capacidade de encontrar aqui qual deve ser o nosso lugar.

Francisco Mota Ferreira

Consultor imobiliário