A Savills Portugal e o Mercado do Porto
A Savills Aguirre Newman – agora Savills Portugal - foi a primeira consultora internacional a fixar uma estrutura na Cidade Invicta. Hoje, conta Filipe Santos, passados dois anos e meio, tem a sua marca em praticamente todos os segmentos de mercado.
Qual o balanço que faz dos dois anos de actividade da Savills Porto?
Se recuarmos ao início de 2016, percebemos que o mercado no Porto dava sinais claros de entrar no radar dos investidores nacionais e internacionais, e nessa altura a nossa estratégia foi alicerçada sobre um claro objectivo, o de aproximar a Savills dos clientes do Norte do país. Missão cumprida e balanço extremamente positivo, na medida em que não só conseguimos apoiar os nossos clientes como detectar novas oportunidades, acrescentar valor em operações que, desde Lisboa, talvez tivessem sido difíceis de apoiar. Acho que chegámos ao mercado num óptimo momento, sendo a primeira consultora internacional a fixar uma estrutura na Cidade Invicta, com profissionais locais, contando desde o primeiro dia com todo o apoio da estrutura sede, em Lisboa. Dois anos e meio de crescimento sustentado e de apoio permanente aos nossos clientes, ao mercado em geral e às autarquias locais.
Quais os principais negócios realizados?
O histórico de operações é, felizmente, alargado e diversificado, o que atesta bem a versatilidade da equipa e a capacidade de acrescentar valor a todo o tipo de operações. Nestes dois anos e meio tivemos a honra e o privilégio de acompanhar a entrada no mercado nacional de várias insígnias internacionais, de assistir e apoiar o crescimento de empresas de referência, bem como jovens empresas que, hoje, se afirmam como projectos de presente e de futuro. Fomos responsáveis pela maior operação do mercado de escritórios do ano 2017, com a colocação de uma empresa de origem francesa, líder de mercado dos Shared Service Centres, e que ocupou cerca de 4.000 m2 de escritórios, em Vila Nova de Gaia, numa operação que envolveu ainda uma transacção simultânea de capital markets. Corriam os primeiros meses de 2016, e tivemos a oportunidade de acompanhar duas das maiores instituições financeiras nacionais, naquela que foi uma principiais transacções de parques de estacionamento, em pleno coração da cidade. Mediámos a venda de 3 lotes para construção em altura, no polo universitário da Asprela, onde está já a ser desenvolvido um dos maiores projectos da cidade, no segmento de Student Housing.
Na Avenida da Boavista, podemos encontrar, hoje, um dos raros edifícios disponíveis no mercado de escritórios, fruto de uma transação intermediada pela nossa empresa em finais de 2016, e que assinalou a chegada de um investidor espanhol à cidade do Porto. Enquanto consultora responsável pela gestão e comercialização das Lake Towers, em Vila Nova de Gaia, acompanhámos a Regus e a Salvador Caetano, colocando uma área de 2.200 m2. Em suma, dois anos de muitas experiências enriquecedoras, onde nos foi possível deixar marcas em praticamente todos os segmentos de mercado.
“Há dois anos atrás, a palavra mais escutada no mercado era reabilitação, hoje podemos já escutar com alguma frequência a palavra promoção...”
Como evoluiu o mercado imobiliário da cidade, neste período?
Há dois anos atrás, a palavra mais escutada no mercado era reabilitação, já hoje, podemos escutar com alguma frequência a palavra promoção. Ou seja, em dois anos, o paradigma está a alterar-se, o mercado está a adaptar-se, e não acontece exclusivamente porque as oportunidades para o mercado da reabilitação comecem a escassear, mas também porque os promotores imobiliários, locais e internacionais, começaram a perceber que havia espaço para correr riscos, para sair da zona de conforto e do centro histórico, desenvolvendo projectos de raiz, para mercados como o de escritórios, que não conseguia ter oferta de qualidade, para o residencial que apresentava preços demasiado altos para o mercado tradicional, bem como no mercado logístico e industrial, que sofreu um forte crescimento nos últimos anos.
Quais os aspectos positivos e negativos que marcaram o percurso da cidade neste período?
A cidade é outra, as ruas renasceram e sorriem a quem por lá passa, abraçadas por edifícios centenários, de beleza e valor incalculável, que estavam ao abandono. Serão muitos certamente os aspectos positivos a realçar, mas, não entrando em grandes detalhes, importa salientar o todo, a cidade e o seu povo, que souberam receber todas estas oportunidades, agarrá-las e transformar tudo isso em algo de positivo e imensurável. Os prémios internacionais e toda a projecção que a cidade, e o país, têm tido por cá, e fora de portas, são importantes, mas não menos importante é dar continuidade ao trabalho que está a ser feito pelos players, pela cidade e pelos que tem a responsabilidade de zelar e preservar o nosso património material e imaterial. Foi com muito agrado que pudemos assistir à transformação e afirmação da Avenida dos Aliados, e todo o centro histórico, como ex-líbris da Invicta, o novo cartão-de-visita a par do Rio Douro e de toda a zona ribeirinha. Inevitavelmente, haverá sempre um preço a pagar pelo crescimento, pela modernidade, pelo desenvolvimento das cidades, e o Porto não é excepção.
Neste momento quais as oportunidades imobiliárias que identifica no mercado?
A cidade cresce, estende-se inevitavelmente, e hoje já é possível encontrar operadores internacionais a olhar para cidades como Gaia, Matosinhos ou Maia, que reúnem, a par do Porto, tudo o que é essencial e fundamental para que possam, nesses locais, instalar as suas operações, desenvolver os seus projectos, tendo recursos humanos de elevada qualidade, excelentes acessibilidades, oferta habitacional, e um custo de vida baixo em contraste com a nossa capital, ou outras grandes cidades da europa. Desta feita, acreditamos que as oportunidades continuarão a surgir, em todos os segmentos, com os habituais e naturais ajustes, construindo uma cidade de futuro, que hoje já dá sinais de crescimento para a zona oriental, permitindo desta forma renovar uma parte da cidade com enorme potencial e que estava de certa forma esquecida.
Actualmente as principais consultoras internacionais estão instaladas na cidade do Porto. Na sua opinião, há mercado para todos?
O mercado necessita de todos os players e é com essa mais-valia que se elevam os padrões de qualidade e que se constrói um futuro mais forte e sustentável. A chegada das consultoras internacionais teve como principal vantagem a profissionalização do sector e maior transparência e equilíbrio nas transacções. A dinamização do mercado e todos os desafios que constitui uma cidade envelhecida como estava o Porto exige mais sofisticação na abordagem das operações que aí se realizam, sobretudo no que toca à promoção e reabilitação urbana.
Elisabete Soares/VE