Arquivo do "fotógrafo da Arquitectura" Fernando Guerra doado a Serralves
O fotógrafo Fernando Guerra, "um dos mais relevantes" e pioneiros no campo da arquitectura a nível internacional, celebrou um contrato de doação do seu arquivo de mais de 2.500 reportagens e 500 mil imagens a Serralves, anunciou hoje a fundação.
O trabalho desenvolvido por Fernando Guerra "ao longo de mais de 25 anos, constitui um valioso universo visual que abrange figuras de destaque da arquitectura mundial de diversas gerações", de Álvaro Siza a Rem Koolhaas e Norman Foster, Gonçalo Byrne, Manuel Graça Dias, Zaha Hadid e Paulo Mendes da Rocha.
A doação do Arquivo Fernando Guerra estabelece que esta colecção seja "enriquecida anualmente com novos trabalhos".
Do arquivo do fotógrafo, Serralves destaca "um importante conjunto de imagens do arquitecto Álvaro Siza e da sua obra, registadas ao longo de diversas viagens, sessões de trabalho, prémios e exposições, e que vem complementar o arquivo que o próprio Siza doou [à fundação] em 2015".
Serralves enumera ainda outras obras de arquitectura representadas neste arquivo, sejam de ateliers como ARX Portugal e Spaceworkers, como de arquitectos como Carlos Castanheira, Gonçalo Byrne, Carrilho da Graça, Paulo David e Eduardo Souto de Moura, Kengo Kuma, Peter Zumthor, Steven Holl, Arthur Casas e Paulo Jacobsen, entre muitos outros.
"Além de captar com a sua objectiva a evolução da arquitectura em Portugal, Fernando Guerra registou, com a precisão e sensibilidade de um mestre, o desenvolvimento da arquitectura global no século XXI, cobrindo desde grandes projectos imobiliários até infraestruturas urbanas e centros comerciais, em diferentes geografias do globo".
Um fotógrafo com reconhecimento internacional
Para a Fundação de Serralves, detentora do Museu de Arte Contemporânea desenhado pelo primeiro arquitecto português vencedor do Prémio Pritzker, e da 'Ala Álvaro Siza', inaugurada em Março para expandir a exposição permanente, a incorporação do Arquivo Fernando Guerra "marca um momento significativo" na vida da instituição e "consolida o acervo na área da fotografia, com um enfoque especial na arquitectura", que define como "área estratégica".
O Arquivo Fernando Guerra junta-se assim a outros "espólios artísticos de grande relevância" preservados por Serralves, como os do cineasta Manoel de Oliveira e do seu diretor de fotografia António Mendes, do artista Julião Sarmento e do Atelier RE.AL do coreógrafo João Fiadeiro.
Fernando Guerra, que iniciou a carreira em Macau como arquitecto, dedicou-se em particular à fotografia de arquitectura, nas últimas três décadas, acompanhando a produção contemporânea.
As suas reportagens são divulgadas regularmente em publicações portuguesas e internacionais, e já foram distinguidas com prémios como Arcaid Images e das plataformas Architizer e Archdaily, como aconteceu com os projectos desenvolvidos na Ilha do Fogo, em Cabo Verde, e em Santiago do Chile.
Em 2017, o Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, expôs uma retrospectiva da obra do "fotógrafo da Arquitectura", "Fernando Guerra - Raio X de uma prática fotográfica”, com perto de três mil imagens. Dois anos mais tarde foi produzido o documentário “O Fotógrafo Voador”, sobre o seu processo criativo, bastidores e relações estabelecidas no seu trabalho, dirigido por Sara Nunes.
A exposição no CCB mostrava como o olhar de Fernando Guerra se estende pela arquitectura e além dela, testemunhando também registos das viagens com Álvaro Siza, naquilo a que o autor designa por “entre-reportagens”, captando ambientes e vivências.
O Arquivo Fernando Guerra agora doado a Serralves "será objecto de estudo e divulgação, através de conferências, conversas, publicações e exposições", tanto na fundação do Porto "como noutras instituições nacionais e internacionais, garantindo o seu acesso a um público muito alargado", conclui o comunicado da prestigiada fundação.
Lusa/DI
Fotografias: Fernando Guerra