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Museu Judaico de Lisboa com críticas ao projecto arquitectónico

 

Museu Judaico de Lisboa com críticas ao projecto arquitectónico

28 de fevereiro de 2017

O novo Museu Judaico de Lisboa que será inaugurado este ano reúne consenso geral mas é alvo de críticas no que diz respeito ao projecto arquitectónico.

O novo edifício que se está a construir no Largo de São Miguel, um dos mais emblemáticos em Alfama, envolve um investimento de cerca de cinco milhões de euros, numa primeira fase, dos quais 2,9 milhões são financiados em conjunto pela Câmara Municipal de Lisboa, a quem caberá um milhão de euros, a Fundação Patrick & Lina Draghi (1,2 milhões de euros), e fundos noruegueses EEA Grants (312,8 mil euros), através do Programa AP16 Conservação e Revitalização do Património Cultural e Natural do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu e no âmbito das "Rotas de Sefarad", sendo aquela última verba destinada à aquisição de espólio para o museu. À Associação de Turismo de Lisboa correspondem 55,2 mil euros, como contrapartida nacional do AP16. 

O museu terá um primeiro espaço com uma exposição de objectos e imagens da cultura religiosa judaica (que serão doados pela comunidade), e passará depois ao percurso dos judeus em Portugal, onde não serão esquecidos os períodos mais marcantes da passagem deste povo por Portugal, nomeadamente a expulsão e as perseguições.

O projecto arquitectónico para o museu e para o centro de documentação que ocupará quatro lotes diferentes, foi doado pela arquitecta Graça Bachmann, no valor atribuído de 75 mil euros. Este projecto é que está envolto de polémica, com duras críticas por parte de algumas instituições, que consideram que coloca em risco o carácter e a autenticidade do Largo de S. Miguel, no coração de Alfama, um dos bairros mais tradicionais de Lisboa, sem que a população tenha, sequer, sido ouvida.

De acordo com um comunicado do GECoRPA – Grémio do Património, estando Alfama protegida pelo Plano de Urbanização do Núcleo Histórico de Alfama e da Colina do Castelo (PUNHACC), esperava-se que fosse respeitado o requisito segundo o qual "nas intervenções por edifício, em trabalhos de reabilitação ou reconstrução, deve ser mantida a tipologia, utilizando os mesmos materiais, ou compatíveis, não sendo permitidas alterações que desvirtuem as características fundamentais dos edifícios a nível morfológico e construtivo” (...) “as intervenções no tecido edificado devem (...) garantir a preservação dos elementos arquitetónicos e patrimoniais, evitando-se a sua substituição, potenciando e reforçando a imagem singular desta área histórica” ou “As intervenções no âmbito da conservação e reabilitação devem ter por base o edifício (...) utilizando os mesmos materiais da envolvente ou materiais que nela se enquadrem".

Segundo o GECoRPA, o problema é que neste PUNHACC está prevista a excepção à regra. Basta que o projecto seja declarado de interesse turístico excepcional, que foi o argumento invocado neste caso.

O GECoRPA e as outras quatro associações de defesa do Património - as Associações Portuguesas de Arqueologia Industrial (APAI), dos Amigos dos Castelos (APAC), das Casas Antigas (APCA) e da Reabilitação Urbana e Proteção do Património (APRUPP) - envolvidas na organização do Fórum do Património 2017, são favoráveis à existência deste museu, mas discordam da ausência de diálogo e de que a opinião pública não tenha sido ouvida. Entendem que estas excepções à regra não podem ser invocadas de forma discricionária, sem escrutínio e sem critérios bem definidos, desrespeitando o PDM e a regulamentação urbanística em vigor. O receio prende-se com o facto de o projecto pôr em causa a unidade de conjunto do Largo de São Miguel e do Beco da Cardosa, ao promover a construção de dois edifícios cuja leitura exterior e em perspectiva, será completamente dissonante com os prédios vizinhos e por isso nunca seria permitido não fora a sua pretensa "excepcionalidade".

"Ao contrário do que aparece na memória descritiva e justificativa do projecto, não estão harmonizadas todas as infraestruturas existentes, salientam as vozes discordantes. Mas a arquitecta responsável pelo projecto garante que teve todos estes aspectos em causa, e reconhece que o grande desafio foi a “integração” do projecto com a envolvente. Porém, as ONG do Património defendem que se podia adaptar o programa museológico e museográfico a outros edifícios existentes, propriedade da câmara e do Estado, que precisam de recuperação urgente e poderiam ser reabilitados e utilizados para o efeito", lê-se no comunicado.