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Vistos Gold: Espanha está a tirar proveito da instabilidade que se vive em Portugal

5 de abril de 2021

Perceber e debater como as alterações ao programa dos Vistos Gold vão ter impacto no mercado imobiliário, juntou Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Ibéria, Rita Lopes da Morais Leitão, José Roquette, administrador do Grupo Pestana, Luís Gamboa, Chief Operating Officer da VIC Properties, José Cardoso Botelho, Managing Director da Vanguard Properties, Pedro Vicente, Administrador da Habitat Invest, Bhavik Chunilal, da EY e Hugo Santos Ferreira, Vice-presidente Executivo da APPII, num webinar promovido pela Century 21, e que contou com o apoio da Associação Portuguesa dos Promotores e Investidores Imobiliário – APPII e a sociedade de advogados Morais Leitão.

Segundo Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Ibéria, estas alterações e medidas avulso, como a do programa dos vistos gold (a nova lei dos vistos ‘gold’ que entra em vigor em Janeiro de 2022, permite que seja apenas possível obter a concessão de um Visto Gold através de investimento em imóvel com destino a habitação se este for realizado nos Territórios do Interior e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira), tem impacto sobre todos os portugueses, porque abala o sentimento de confiança.

“No caso da Century 21, mais de 80% das transacções que fazemos de norte a sul do país são com portugueses e famílias portuguesas, com um valor médio de 140 mil euros, um valor possível ao poder de compra da classe média portuguesa e 60% com recurso a crédito bancário”, indicou o responsável.

O CEO da Century 21 Ibéria avançou ainda, que na cidade de Lisboa “temos uma população com um rendimento superior e aí o valor médio de transacção é cerca de 300 mil euros, abaixo daquilo que é o poder de aquisição, onde 20% é o cliente internacional e parte destes procuram os vistos gold.

É importante pensarmos que  Portugal tem desafios e uma complexidade na economia que vai muito além do imobiliário. Pôr o foco no imobiliário, na construção e na habitação como a causa dos problemas e onde tem de estar a solução, é uma perspectiva errada”.

Ricardo Sousa, acrescentou ainda que “temos um problema demográfico. Segundo os cenários divulgados, em 2030 devemos ter nove milhões de cidadãos, de acordo com a perspectiva da tendência demográfica ser descendente. Isto significa que temos de ganhar atractividade para ganhar escala num mercado global”.

Lembrou ainda, que se nos focarmos em 2012 quando este programa começou, e o impacto que teve, ele não aconteceu só nas transacções imobiliárias realizadas ou no no investimento que dinamizou, a consequência focou-se também no sentimento de confiança, seja por parte dos investidores, seja na dinâmica que trouxe ao mercado mas acima de tudo, ao sentimento de confiança nas famílias. “Porque este programa não tem nada a ver com os portugueses mas foi através deste programa dos residentes não habituais, que foi restituido o sentimento de confiança aos portugueses e às famílias portuguesas. E não podemos esquecer que o verdadeiro motor do mercado imobiliário são os portugueses e as famílias portuguesas”.

Instabilidade legislativa e fiscal afasta investidores

“Esta instabilidade legislativa e fiscal afasta investidores e diminui o sentimento de confiança, e convém lembrar, que Lisboa é o nosso verdadeiro mercado global. Se olharmos para a cidade que tínhamos em 2012 e a que temos hoje, o orgulho na cidade actual é imenso e é através desse centro de atracção, que actualmente é de facto um destino à escala global, que podemos direccionar clientes para outras zonas de investimento. Esse é um dos objectivos actuais nas alterações ao programa mas impôr isso, está errado”.

Ricardo Sousa, salientou que se se olharmos para fora, outros países têm essa porta de entrada, como Vancouver, Toronto, Sidney e tantas outras cidades. “Hoje, estamos a limitar esta porta de entrada a zonas que não são reconhecidas e atractivas. Essa limitação como imposição irá penalizar mais o interior do país do que beneficiar. A nossa missão é promover essas zonas”.

O responsável admitiu também, que o impacto do programa dos Vistos Gold tem sido muito além da regeneração dos centros históricos. “Não podemos olhar só para o centro histórico da cidade de Lisboa mas sim numa perspectiva metropolitana, com todos os concelhos envolventes numa visão mais integrada e observar as sinergias. E a regeneração que aconteceu em Portugal nos últimos anos, em  particular nas cidades de Lisboa e no Porto, foi o facto, de acrescentar valor às cidades”.

Ricardo Sousa garantiu que o impacto dos vistos gold na dinâmica das cidades, sobretudo de Lisboa e Porto, foram visíveis em todos os sentidos. “Não foram só os edifícios a serem reabilitados, muitas das zonas da cidade foram regeneradas, como por exemplo, as partes públicas, cidades mais verdes e até as cidades envolventes  foram reiventadas, ganharam mais vida e tornaram-se mais dinâmicas. No entanto, a cidade de Lisboa ainda tem gaps importantes na malha urbana como por exemplo, o projecto da VIC Properties na Matinha que vai regenerar uma zona abandonada da capital”.

Espanha está a tirar claramente proveito desta instabilidade que se vive hoje em Portugal

Sobre a visão ibérica, Ricardo Sousa admitiu que a perspectiva empresarial ibérica faz sentido. "Portugal era o ilustre desconhecido e utilizávamos Espanha como plataforma para promover o nosso país e as diversas regiões da Península Ibérica, agora a nível de investimento competimos, não só a nível de país, como de cidades.

Estamos num mercado global, posicionar a Península Ibérica e existir uma estratégia comum de comunicação não será por aí o caminho mas terá de passar por cada região, cada município, cada região de turismo, a fazer esse trabalho de promoção, porque o mercado é altamente concorrencial. Concorremos com países muito mais evoluídos do que o nosso nesse âmbito e Espanha está a tirar claramente proveito desta instabilidade que se vive hoje em Portugal. Muitos investidores que hoje estão atentos a Portugal começam a olhar e a perguntar por Espanha”.

Não aprovo a ideia da especulação dos preços

Sobre a ideia de que o programa tenha originado uma especulação de preços nas Áreas Metropolitanas, o CEO da Century 21 Ibéria, afirmou: “Não aprovo a ideia da especulação dos preços, sobretudo na cidade de Lisboa quando o edifício é reabilitado, toda a zona envolvente é regenerada, acrescenta-se valor e se as casas têm hoje outro valor é porque são outros imóveis que estão a ser comercializados, que foram alvo de forte investimento, o que os valorizou. Portugal mudou de escala, temos um país que foi modernizado e ainda temos muito para fazer.

Obviamente, se queremos que  o interior se desenvolva e que exista investimento no interior e que esses clientes vão para esses territórios, as casas que se vão vender e a procura que vai haver vai ter um impacto no mercado mas de valor acrescentado”.