Depois de quedas históricas a Euribor começou a subir em tempo de Covid-19. Porquê?
Vários analistas reconheceram esta volatilidade recente das taxas de juro, mas consideram que o futuro relativo às Euribor é ainda incerto.Este movimento de subida está ligado ao aumento da percepção de risco do sector bancário.
De acordo com a Lusa, a tendência de queda das Euribor tem sido interrompida nas últimas semanas, com as taxas a alcançarem máximos de 2015, a reflectir a maior instabilidade dos mercados financeiros face à incerteza do impacto da covid-19 na economia.
A Lusa contactou vários analistas que reconheceram esta volatilidade recente das taxas de juro, mas consideram que o futuro relativo às Euribor – são fixadas pela média das taxas às quais um conjunto de 57 bancos da zona euro está disposto a emprestar dinheiro entre si no mercado interbancário – é ainda incerto.
“Dado o aumento de risco em todas as classes de ativos, acaba por ser normal que tivéssemos assistido a uma subida das Euribor. Este movimento de subida está ligado ao aumento da percepção de risco do sector bancário”, refere o director de investimentos do Banco Carregosa, Filipa Silva, lembrando que existe uma forte probabilidade de se assistir a falências de empresas em diferentes sectores de actividade, que levarão a um aumento do risco dos bancos.
“O movimento futuro desta taxa vai depender do balanço de cada banco para fazer face a estas imparidades, bem como do suporte que os bancos nacionais e centrais irão dar nesta fase conturbada da economia”, refere.
O analista da IMF Filipe Garcia sublinha que, neste momento, não há uma explicação unânime para justificar os movimentos de subidas das Euribor, mas avança dois factores.
Por um lado, uma maior procura por crédito por parte dos clientes dos bancos, quer para enfrentar a crise, quer por precaução, o que obriga os bancos eles próprios a procuraram mais crédito junto uns dos outros e, por outro, um maior risco apercebido no próprio mercado interbancário.
“O facto de cerca de um terço dos bancos do painel serem da ‘periferia’ pode ajudar a explicar esta subida”, acrescenta.
O BCE tem vindo a efectuar várias injecções de liquidez, o que tem impedido uma subida mais pronunciada e rápida.
Segundo Filipe Garcia, caso as Euribor se comecem a afastar da taxa de cedência (0%), é provável que o BCE “reaja para impedir uma escalada na subida”.
Para o analista da corretora Infinox David Silva, apesar de o actual momento de maior incerteza económica e de todos os pacotes de estímulos anunciados, o BCE optou por manter as suas taxas de juro de referência, o que mantém o custo de financiamento junto do banco central no mesmo nível.
“Então, face a este momento de maior incerteza, creio que poderemos assistir a um desequilíbrio de financiamento no mercado interbancário e os bancos possam estar a exigir um custo mais alto face ao que era praticado anteriormente”, referiu à Lusa.
A subida da Euribor aconteceu precisamente no dia 12 de Março quando o BCE anunciou que iria manter as suas taxas de juro, sinaliza.
“Em relação ao futuro, creio que os bancos poderão continuar a manter as suas taxas de financiamento no mercado interbancário nestes níveis até haver alguma medida mais agressiva por parte do BCE (que já não tem muitas mais armas)”, sustenta.
O analista da Difbroker Pedro Lima refere, por seu turno, que a ausência de uma intervenção mais forte por parte do BCE “aumenta os receios de uma desfragmentação da zona euro e as instituições ficam mais relutantes a emprestar entre si”.
A segunda explicação, continua, é que “os anúncios de estímulos nunca vistos, sejam monetários, fiscais/orçamentais, irão criar uma necessidade de emissão de dívida que terá de ser monetizada, que em ultima análise irá criar inflação e uma subida das taxas de juro, mais rapidamente do que pensamos, pelo menos para o intervalo de 0,5%-1%”.
O analista da XTB André Pires sustenta que a evolução das taxas de juro Euribor está relacionada com o comportamento das taxas de juro directoras do BCE.
“As taxas negativas da Euribor são consequência da descida da inflação e do reforço dos estímulos monetários do BCE”, explica.
“Espera-se que a actual política ultra-expansionista do BCE continue, como forma de apoio ao endividamento dos Estados, das empresas e das famílias face à pandemia, e estima-se que estas taxas, que servem de referência ao crédito às famílias e empresas, se mantenha em terreno negativo, pelo menos até 2026”, refere.
No entanto, reconhece, a subida da taxa Euribor reflecte o sentimento de risco no mercado.
LUSA/DI