Antiga fábrica da Chemina em Alenquer vai para hasta pública
A Câmara de Alenquer vai lançar uma hasta pública para vender pelo valor mínimo de 1,1 milhões de euros a centenária fábrica de lanifícios da vila, abandonada há mais de 20 anos, para aí ser erguido um hotel.
Segundo o presidente da autarquia, Pedro Folgado (PS) “Houve interesse de um investidor no sentido de vir a criar um hotel e lançamos esta hasta pública, aberta a todos os investidores".
A hasta pública para a fábrica da Chemina vai ser lançada pelo valor base de 1,1 milhões de euros, de acordo com a proposta, que foi aprovada por maioria pelo executivo camarário alenquerense, com votos contra do PSD/CDS-PP e da CDU e uma abstenção do PSD/CDS-PP.
O autarca adiantou que há necessidade de "acelerar a requalificação do edifício", já que há o risco de "qualquer dia cair" por se encontrar devoluto há 20 anos e estarem previstas obras de requalificação para o espaço público envolvente.
O imóvel vai ser alienado para aí ser erguido um hotel, que possa desenvolver o centro da vila. A sua reconstrução e reabilitação, segundo estimativas da edilidade, poderão ser superiores a "quatro ou cinco milhões de euros".
O adjudicatário vai pagar 10% do valor da hasta pública cinco dias após a sua realização e apresentar um projecto preliminar numa segunda fase, sendo obrigado a manter a fachada do edifício e a unidade a ter um auditório ou sala de conferências que possa ser utilizado pelo município, segundo a proposta.
"Não se pretende alienar a alguém que chega ali e mande o edifício abaixo", face ao valor histórico do imóvel, justificou Pedro Folgado.
O projecto definitivo deverá ser apresentado à câmara municipal três meses depois da hasta pública para vir a ser licenciado, enquanto a escritura pública celebrada 15 dias depois de o projecto ser licenciado, altura em que serão pagos os restantes 90% do valor da alienação.
A autarquia compromete-se a emitir licença de utilização oito meses depois, sob pena de o promotor do projecto desistir e ser ressarcido da caução paga.
O promotor terá três anos para concluir a obra, sob pena de ter de pagar ao município 50 mil euros por cada ano de atraso.
A proposta de hasta pública vai ser ainda submetida à Assembleia Municipal, que se deverá reunir este mês.
O município tem vindo a monitorizar o estado de conservação do espaço, tendo verificado um desvio de cinco centímetros na estrutura do edifício, podendo estar sujeito a derrocadas.
Uma fábrica com história...
A fábrica da Chemina foi inaugurada em 1890, chegando a empregar duas centenas de trabalhadores ao longo dos anos. Segundo refere Gastão de Brito e Silva, autor das belas fotografias que publicamos, no seu blog Ruin’Arte “Foram José Joaquim e Salomão dos Santos Guerra os seus mentores, ambos com experiência profissional no ramo, adquirida nas fábricas da Romeira e na do Meio, na Arrentela, conselho do Seixal”.
“Em Abril de 1889 – prossegue a descrição - lançaram a primeira pedra desta monumental empreitada que ficou concluída em Junho do ano seguinte, um hercúleo feito que só foi possível tendo recorrido às novas técnicas de construção da era da arquitectura do ferro”.
Foi José Juvêncio da Silva, arquitecto também responsável pelo edifício dos Paços do Conselho de Alenquer, o autor do projecto da unidade fabril.
Entre 1949 e 1952 a fábrica permaneceu fechada, até que se forma outra empresa que a adquire: a Empresa Lanifícios do Tejo, que a reequipa e põe de novo a funcionar. Em 1977 emprega 160 trabalhadores. Em 1994, à beira do fecho definitivo, ocupando apenas parte dos edifícios, emprega apenas 15 a 20 operários. Os prédios são hoje propriedade municipal. Em 2000, o edifício principal sofreu um violento incêndio.
O município chegou a destiná-lo para centro cultural, uma escola e um hotel, mas nenhum projecto se concretizou.
O edifício, que se insere na malha urbana da vila, é composto por três andares, possui um outro anexo onde se localizavam as antigas caldeira e máquina a vapor, e tem uma fachada, que atinge os 16 metros de altura e 110 de largura.