Almada: O outro lado da especulação
Quando os preços das casas dispararam em Lisboa seja para comprar ou arrendar, as cidades circundantes sofreram as consequências. Do outro lado do rio, na cidade de Almada, os preços tornaram-se 'proibitivos'.
Que o diga o jovem casal nascido em Almada, Ana Silva e David Morais, com dois filhos. Quando há oito meses nasceu o segundo filho, a necessidade de mudar de casa tornou-se uma prioridade, uma necessidade que neste momento tornou-se impossível. Quando há cerca de um ano atrás começaram a procurar uma casa para arrendar, os preços rondavam ainda entre os 350 a 500 euros. Depois de uma gravidez mais complicada em que tiveram de esperar para outra ocasião para mudar para uma casa mais espaçosa, os preços já não eram os mesmos. Os valores pedidos duplicaram ou mesmo triplicaram. São poucos os que existem por 650 euros, a maioria situa-se entre os 850 e os 1250 euros.
"Decidimos esperar porque por estes valores, preferimos juntar dinheiro e adquirir uma habitação. As mensalidades ao banco acabam por serem mais baixas e sempre investimos num bem próprio. É totalmente incomportável uma renda de casa para arrendar com os valores pedidos, neste momento. Vamos aguardar para ver como evolui o mercado, seja para arrendamento como para aquisição", revela o casal.
Na verdade, este não é único caso na cidade de Almada. Para um jovem ainda solteiro, a permanência na casa dos pais vai ter de se prolongar. João Pedro, já perto dos trinta anos, ainda não conseguiu viver sozinho. O ordenado mensal mesmo que seja pouco acima do salário mínimo nacional, não permite a independência desejada. "Já fiz algumas pesquisas mas mesmo um T0 não encontro por menos de 650 euros. Ou seja, o que recebo ao final do mês era quase exclusivamente para pagar a renda da casa", refere.
Exemplos como estes mostram que a subida dos preços das casas, estende-se para além da cidade de Lisboa. A especulação chegou também à cidade de Almada.
Para comprovar, verifica-se a posição da cidade no aumento das rendas nacionais, divulgada recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística - INE, relativamente ao segundo semestre de 2018. Entre os 308 municípios portugueses, Lisboa apresentou o valor da renda mais elevado do país (11,16 euros/m2), seguindo-se Cascais (9,71 euros/m2), Oeiras (9,38 euros/m2), Porto (7,85 euros/m2), Amadora (7,19 euros/m2) e Almada (7,00 euros/m2).
Neste momento, morar em Almada é um luxo.