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Opinião

 

O fim da linha

26 de abril de 2022

Diz-se, a meu ver erradamente, que o imobiliário é o fim da linha para profissionais que, sendo ainda novos para se reformar, são demasiado velhos para transitarem para outra empresa ou função. Porque o mercado laboral acha que estes são mais caros que resmas de recém-licenciados que aceitam estágios não remunerados ou o salário mínimo ou porque tendo já uma experiência consolidada podem fazer sombra a quem os contrata. Ou ainda porque são profissionais que já fizeram muito, passaram por muito e lutaram muito e, como tal, não aceitam qualquer posição e/ou remuneração só porque podem estar a viver um período menos bom na sua vida profissional.

Muitos destes profissionais, depois de algumas resistências, acabam por desembocar no imobiliário como tábua de salvação de uma carreira feita em áreas completamente distintas. E, felizmente também, muitos destes consultores acabam por perceber que, afinal, o imobiliário não é um bicho de sete cabeças ou uma profissão “menor” ou menos “digna” que os leve a ter vergonha da decisão que tomaram. E terminam a sua vida profissional como consultores imobiliários, muitas vezes a dizerem mal de si próprios. Porque afinal gostam, têm jeito e ganham dinheiro como nunca tinham ganho nas suas vidas profissionais anteriores.

Sei bem que o que escrevi no parágrafo anterior é o idílico e o melhor que pode acontecer a um suposto profissional de fim de linha. E, felizmente, há casos assim. Mas também sei que, infelizmente, muitos acabam por se enredar em complicações tão grandes na sua vida que nem sequer conseguem ter a possibilidade de tentar perceber se terão ou não sucesso nesta profissão: porque tomaram essa decisão no limite, quando a esperança de terem algo de novo e diferente já caiu por terra. Mas quando, infelizmente também, já foram tarde na decisão de abraçar a carreira de consultor imobiliário e não se podem dar ao luxo de ficar, três, seis ou nove meses sem vender qualquer activo e receberem a comissão devida.

No reverso destes casos mais extremos, temos os que começam no imobiliário por gosto ou opção consciente e têm uma vida longa e feliz à conta da decisão que tomaram. Pelos casos que vou acompanhando, tenho a certeza que o imobiliário não tem que ser o fim da linha (ou a última praia, numa expressão particularmente feliz do Massimo Forte). Mas pode e deve ser considerada como uma profissão honrosa, que merece ser exercida com dignidade e respeitada por todos os que estão, directa ou indirectamente, com esta relacionados.

O ponto do meu artigo é este: se quem me está a ler está ou conhece alguém que está numa situação menos favorável profissionalmente, o meu conselho é o de que tentem o imobiliário enquanto ainda podem dar-se ao luxo de o experimentar, mesmo que se arrisquem a ficar alguns meses sem receber. Há marcas fantásticas, profissionais excelentes que vos poderão receber de braços abertos, numa relação franca, aberta e de parceria plena. Não tenham medo de arriscar e façam-no antes que o imobiliário seja, aos vossos olhos, a vossa última opção, o vosso fim da linha, a vossa última praia. E, se precisarem de dicas ou recomendações de algum profissional ou alguma marca para falar convosco, entrem em contacto. Terei todo o gosto em ajudar.

Francisco Mota Ferreira

Trabalha com Fundos de Private Equity e Investidores e escreve semanalmente no Diário Imobiliário sobre o sector. Os seus artigos deram origem ao livro “O Mundo Imobiliário” (Editora Caleidoscópio).