Fim dos Vistos Gold irá afastar do mercado imobiliário um dos seus motores
Francisco Bacelar, presidente da Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal – ASMIP, considera que um dos desafios para este ano, seria reconsiderar nos Vistos Gold, sem excluir a aposta de investimento no interior do país. O responsável garante que não aproveitando nós, aproveitarão outros e perde o país, perdemos todos.
O que se pode esperar para o mercado imobiliário em 2021?
É a pergunta para um milhão de euros, cuja resposta só se saberá por inteiro no seu final.
No rescaldo da pandemia muitas são as variáveis que podem ditar um final, mais ou menos feliz. Pela minha experiência de quase quatro décadas neste mercado, e várias crises passadas, diria que apesar de algumas dúvidas, temos razões para acreditar que o imobiliário passará um pouco ao lado da crise económica, fruto da maturidade que atingiu nos últimos anos. Será um pouco como tentar travar um comboio em andamento. Podemos abrandar, mas não será suficiente para o parar, e muito menos fazê-lo regredir.
Se tivesse que definir numa palavra o que aí vem diria esperança, porque o pessimismo pode ser, no final de contas o maior obstáculo.
Quais os desafios que se vão colocar ao sector para este ano?
Um dos primeiros desafios será o fim dos Vistos Gold que irão afastar do mercado imobiliário um dos seus motores. É certo que serão reorientados para o interior, mas tememos que nesse contexto deixem de ser suficientemente atractivos à captação de investimento estrangeiro, pela menor valorização e maior incerteza no retorno. Aliás já existia essa hipótese, mas só residualmente era opção para os interessados. Percebe-se a intenção, e até se compreende a necessidade, mas podia-se optar uma solução mista, com privilégio fiscal ainda mais relevante para quem optasse pelo interior, mas sem deixar a oferta principal que proporcionou mais de 5.000 milhões de investimento no mercado nacional.
Para além disso teremos o final das moratórias e a incerteza inerente à capacidade das empresas, e famílias, em sobreviver a esses encargos num contexto de dificuldade da economia e do emprego. Será um período difícil, e por isso é bom que haja a necessária preparação para esse efeito nocivo, de forma a reduzir o mais possível o seu impacto.
Pela positiva teremos a "bazuca" com dinheiros que sendo bem distribuídos e aplicados podem ser decisivos para suavizar a anunciada crise. Para isso é muito importante que sejam afastados vícios e desvios do passado, o que acredito acontecerá, até porque haverá muito mais controle.
Mas o maior desafio será a capacidade dos portugueses em não ser deixarem abater. O desânimo é meio caminho para o desastre, pelo que será de importância vital cada cidadão, por maiores que sejam as suas dificuldades, ter capacidade de resiliência bastante para ultrapassar obstáculos. Se cada um fizer a sua parte, beneficiará por si, e contribuirá para o sucesso geral.
Há que afastar pessimismos e pensar positivo, em todos os campos, e no imobiliário ainda mais por ser um dos sectores mais relevantes para alavancar investimento e a economia. Se não acreditarmos em nós, portugueses e profissionais do sector, quem acreditará?
Que medidas devem ser tomadas em 2021?
Reconsiderar nos Vistos Gold, seria bom, sem excluir a aposta de investimento no interior do país, claro. Seria o dois em um, e a continuação de captação de verbas do exterior, sempre importantes à nossa economia.
Tenho consciência de não existir interesse político com o argumento, algo falacioso, por generalizar situações pontuais de inflação de preços. Mas seria um bom sinal. Quando foi decidido terminar com os Visto Gold ainda não havia pandemia no país. O contexto mudou, e no actual fazia todo o sentido um passo atrás.
Depois, em resposta às dificuldades que se avizinham seria importante a redução de impostos à construção de habitação para a classe média. Poderia incentivar os promotores nessa aposta, aumentando a oferta, e assim criar mais facilidade na aquisição para essas famílias. O incremento deste mercado para além de satisfazer uma necessidade evidente, contribuiria para a criação de muito emprego, afinal de contas um bem precioso nos próximos tempos.
Com os holofotes virados para nós devido à presidência da União Europeia, pode-se potenciar o efeito destas e outras medidas, quer no contexto imobiliário, quer de outros que atraiam capital. São momentos de oportunidades únicas que convém aproveitar, ainda para mais quando beneficiamos da oferta de uma localização ímpar, no âmbito do mercado imobiliário europeu.
Não aproveitando nós, aproveitarão outros. Perde o país, perdemos todos. Sempre se disse que em tempo de guerra não se limpam armas, pelo que seria bom deixar as ideologias por algum tempo, e olhar o aspecto prático e económico que mais pode favorecer o nisso país.
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