CONSTRUÍMOS
NOTÍCIA
Arquitectura

 

 

 

 

 

 

Lisboa vai ter uma requalificada Estação Sul e Sueste

16 de março de 2018

A Câmara Municipal de Lisboa aprovou ontem o projecto de arquitectura para a estação fluvial Sul e Sueste, que será um terminal de actividades marítimo-turísticas.

A proposta, assinada pelo vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, foi aprovada em reunião privada do executivo, com os votos contra do PSD, a abstenção do CDS-PP e os votos favoráveis do PS, PCP e BE.

Em Setembro de 2016, o Estado cedeu as instalações da antiga estação junto ao Terreiro do Paço à câmara, através de um protocolo de cedência de utilização.

"A cedência de utilização das instalações da Estação Sul e Sueste e área adjacente tem, como finalidade única, a construção do terminal de actividade marítimo-turística de Lisboa, garantindo a reabilitação do edifício da estação, a requalificação do espaço público envolvente, possibilitando a abertura do espaço ao pleno uso público e mantendo ainda a valência de ancoradouro para embarcações de recreio e turismo", refere a proposta.

A antiga estação fluvial, classificada como Monumento de Interesse Público, será reabilitada pela entidade responsável pela sua gestão, a Associação Turismo de Lisboa (ATL), num investimento de sete milhões de euros.

Questionado pelos jornalistas no mês passado, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina (PS), adiantou que a intervenção na antiga estação fluvial Sul e Sueste estaria "em fase de trabalho e arranque de obra", pelo que iria arrancar "em breve". Sobre as razões do atraso o autarca explicou que se prendem com questões técnicas que estão a ser analisadas com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, por forma a não por em risco a estrutura do Metropolitano.

 

Uma obra de Cottinelli Telmo continuada pela sua neta Ana Costa

 

Projectada pelo arquitecto Cottinelli Telmo, a estação Sul e Sueste foi construída entre 1929 e 1931, estabelecendo ligação fluvial à estação ferroviária do Barreiro. É constituída por um único pavimento, em três corpos. O hall da estação possui painéis de azulejos policromados, representando os brasões de Évora, Setúbal, Beja, Estremoz, Portalegre, Faro, Lagos, Tavira, Silves e Portimão.

O projecto de arquitectura de reabilitação agora aprovado pelo executivo da autarquia é de Ana Costa (Ana Cottinelli Telmo Monteiro da Costa), neta do autor do projecto inicial.

Ana Costa licenciou-se em Arquitectura pelo Departamento de Arquitectura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1983 e obtido o grau de “Master of Architecture” pelo College of Environmental Design da University of California, Berkeley em 1985.

Durante seis anos viveu nos EUA (Califónia), tendo em 1989 regressado a Portugal onde criou o seu próprio atelier. A partir de 2005, assume a liderança do Atelier Daciano da Costa, dando continuidade a “um modo de fazer” que herdou do seu pai, Daciano da Costa.

 

O projecto de reabilitação: preservar o antigo numa perspectiva de contemporaneidade…

 

Além do edifício, o projecto da autoria da Arqt.ª Ana Costa, prevê a reabilitação da zona envolvente. Nesse sentido serão construídos percursos pedonais e cicláveis que facilitem a ligação do Terreiro do Paço ao Cais das Cebolas, e reconstruído o "muro das namoradeiras", completando-se assim a reabilitação na zona lateral ao Cais das Colunas.

Ouçamos o que diz Ana Costa, a autora do projecto de reabilitação:

“O corpo principal do edifício original da Estação Fluvial do Terreiro do Paço, projectada pelo arquitecto Cottinelli Telmo será integralmente recuperado, mantendo as suas funções de grande átrio/ vestíbulo do Interface e a sua qualidade de espaço de representação.

Já o corpo nascente, da antiga Sala de Bagagens do edifício original, passará a funcionar como átrio principal de passageiros, reproduzindo a escala e dimensão do Edifício principal, sendo um espaço generoso destinado à previsível pressão dos grandes fluxos de passageiros originados pela nova saída de metropolitano.

Entre o plano da fachada da Estação Fluvial (lado rio) e o bordo do cais, no espaço actualmente ocupado por um conjunto heterogéneo de construções dissonantes e degradadas, será construída uma estrutura longitudinal de dominante horizontal destinada a conter as salas de espera e a estabelecer a articulação entre os pontões de embarque e os átrios, bilheteiras e demais áreas funcionais.

Pretende-se que este corpo constitua uma frente unitária à aproximação a partir do rio e que apresente uma expressão autónoma em relação ao edifício original da Estação Fluvial. A volumetria desta nova estrutura garante a franca visibilidade do edifício da Estação Fluvial a partir do rio”.

Sobre a utilização dos materiais, diz a arquitecta:

“Neste projecto, os materiais assumem grande importância, pondo em relevo alguns dos aspectos conceptuais da solução arquitectónica.

Na Frente Terra, a constituição dos novos edifícios remete para uma reinterpretação da volumetria e das proporções do edifício de Cottinelli Telmo. No entanto, onde naquele edifício prevalece o jogo de claro-escuro decorrente da modelação das superfícies num único material de acabamento (o reboco branco), na nova construção procurou-se utilizar uma paleta de materiais que na sua conjugação, revelasse discretas mudanças de cor e textura, preservando assim o carácter abstracto e depurado da nova construção, reforçando mais uma vez, a ideia de uma "arquitectura de acompanhamento".

Assim, na solução proposta, toda a construção nova voltada à praça será revestida a azulejo Viúva Lamego. Este azulejo "em onda" foi concebido especialmente para o projecto, criando uma superfície reverberante e texturada, que "desmaterializa" a construção nova, procurando uma integração harmoniosa com a envolvente pombalina e uma relação equilibrada com o edifício principal existente”.