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Espólio de urbanista Lúcio Costa, criador de Brasília, doado à Casa da Arquitectura

20 de outubro de 2021

O espólio do arquitecto e urbanista brasileiro Lúcio Costa, criador de Brasília, foi doado à Casa da Arquitectura - Centro Português de Arquitectura, em Matosinhos, anunciou a instituição, que se compromete a divulgar o acervo numa plataforma em 2022.

O acervo, doado pela família do arquitecto, engloba cerca de 11 mil documentos de 1910 a 1998, incluindo cinco cadernos de anotações e esboços que atestam as viagens de Lúcio Costa a Portugal, em 1948 e 1952.

Lúcio Costa, que morreu em 1998, no Rio de Janeiro, aos 96 anos, é autor do Plano Piloto de Brasília, projecto que deu origem à cidade e capital brasileira, inaugurada em 1960.

"É uma honra e uma distinção para a Casa da Arquitectura acolher o património desta figura ímpar do modernismo", expressou o seu presidente, José Manuel Dias da Fonseca.

Do espólio doado à Casa da Arquitectura constam textos, desenhos pré-concurso e outros elementos do Plano Piloto de Brasília, assim como documentos relativos aos projectos da Casa do Brasil em Paris, do Jockey Club do Rio de Janeiro, do Museu das Missões e do Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova Iorque de 1939.

Há igualmente registos fotográficos e videográficos de carácter pessoal e familiar, troca de correspondência entre Lúcio Costa e os arquitectos Le Corbusier, incluindo desenhos originais deste, e Oscar Niemeyer, com os quais trabalhou.

 

Casa da Arquitectura: Conservar e divulgar o espólio

O vasto acervo documental integra ainda artigos de jornais, revistas, cartazes, álbuns de família, postais, mapas, plantas, esboços, desenhos e apontamentos em envelopes, folhas de rascunho e cartões de visita.

A Casa da Arquitectura compromete-se a conservar o espólio e a divulgá-lo numa plataforma digital, com lançamento previsto para Janeiro de 2022.

A documentação, que está a ser tratada e digitalizada, poderá, no entanto, ser consultada em suporte papel mediante marcação prévia, ficando a Casa da Arquitectura responsável pela gestão de empréstimos para fins diversos, como exposições ou publicações.

Lusa/DI

 

Biografia de Lucio Costa

Lucio Marçal Ferreira Ribeiro de Lima e Costa, conhecido como Lucio Costa, nasceu em 1902, em Toulon, França, e faleceu em 1998, no Rio de Janeiro, Brasil. 

Filho do almirante Joaquim Ribeiro da Costa, devido ao trabalho do pai, passou grande parte de sua infância a viajar. Estudou no Royal Grammar School, em Newcastle, Inglaterra e no Collège National, em Montreux, Suíça.

Em 1917, com os pais de volta ao Brasil, ingressa na Escola Nacional de Belas Artes – ENBA, no Rio de Janeiro, concluindo o curso de arquitectura e pintura, em 1924.

Entre os anos de 1922 e 1929, manteve um escritório de arquitectura, em sociedade com Fernando Valentim. Após a Revolução de 1930, é nomeado diretor da ENBA, por Rodrigo Melo Franco de Andrade. 

Entre 1931 e 1933 associa-se a Warchavchik, para realizar projetos importantes como o Conjunto Residencial da Gamboa e a Residência Alfredo Schwartz, de 1932. Em 1935-1936, é convidado pelo ministro Gustavo Capanema a conceber o projeto da nova sede do Ministério da Educação e Saúde – MES, tarefa em que prefere trabalhar associado a um grupo de jovens arquitetos: Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Jorge Moreira, Ernani Vasconcelos e Oscar Niemeyer, com a coordenação de Le Corbusier. Esse edifício, bem como o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York, 1939 (projetado em parceria com Niemeyer), e o Conjunto da Pampulha, é considerado o marco inaugural da arquitetura moderna brasileira, sendo o primeiro arranha-céu no mundo a realizar integralmente os “cinco pontos da arquitetura moderna” idealizados por Le Corbusier. 

Em 1937, passa a trabalhar como diretor da Divisão de Estudos e Tombamentos – DET, do Serviço do Património Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, criado nesse ano. Deve-se a ele a definição de critérios e normas de classificação, análise e classificação do património arquitetónico brasileiro, bem como a definição de critérios para a intervenção em centros históricos. Soma-se a isso o projeto para o Museu das Missões, no interior do sítio arqueológico de São Miguel, no Rio Grande do Sul. Essa interpretação historiográfica consolida-se com os textos escritos nas décadas seguintes, como “Considerações sobre a Arte Contemporânea”, anos 1940 e “Muita Construção, alguma Arquitetura e um Milagre”, 1951. Em 1957, venceu o Concurso Nacional para o Plano-Piloto de Brasília, a nova capital do Brasil, inaugurada a 21 de abril de 1960*. 

*Fonte: LUCIO Costa. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018.