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Exportações de Portugal para a China cresceram 30% em 2012

10 de fevereiro de 2015

Para uma empresa participar numa feira da Messe Frankfurt equivale a marcar uma posição no mercado. Cristina Motta, responsável pela representação da Messe Frankfurt em Portugal responde a cinco questões onde revela a importância destes eventos para as empresas portuguesas.

A Messe Frankfurt tem tido um crescimento muito grande nos últimos anos, sobretudo na participação de empresas portuguesas. Porquê o aumento deste interesse?

As feiras da Messe Frankfurt sempre contaram com a participação de numerosas empresas portuguesas. No entanto tal só passou a tornar-se mais visível nos últimos anos, pois trata-se de empresas maioritariamente exportadoras que eram muitas vezes desconhecidas no mercado nacional. O facto de se ter vindo a dar cada vez mais atenção à exportação enquanto factor de crescimento económico veio colocar o foco sobre as indústrias que habitualmente são designadas por indústrias tradicionais.

Por outro lado, as empresas que sobreviveram à abertura do comércio internacional aos países asiáticos no início dos anos 2000 tiveram que redefinir as suas estratégias e passar a apostar em marcas próprias e em novos canais de distribuição. Para fazê-lo investiram em marketing, expondo as marcas a um público que anteriormente não era abrangido.

O que hoje percepcionamos como um maior investimento das empresas em feiras internacionais tem muito a ver com a forma como hoje as empresas comunicam as suas marcas e as associações que as apoiam divulgam a sua actividade junto da comunicação social.

O que procuram nesta participação internacional?

Ao falarmos de feiras internacionais convém distinguir entre as chamadas feiras âncora, que são feiras incontornáveis para os sectores em que se inserem, e feiras locais ou regionais, que permitem um rápido reconhecimento de potenciais mercados. A Messe Frankfurt organiza por exemplo algumas feiras incontornáveis para sectores como o dos têxteis lar, artigos para a casa, iluminação, instalações sanitárias, etc. Participar numa feira destas equivale a marcar uma posição no mercado.

Mais do que vender, estas feiras servem para as empresas se mostrarem, lançarem novidades, sublinharem a diferença, afirmarem a sua vitalidade. Por outro lado permitem às próprias empresas tomar o pulso ao mercado e confrontarem-se com a concorrência. As feiras internacionais são por excelência o local onde todo o sector se encontra. Quando vão para uma grande feira internacional, as empresas levam agendadas reuniões com todos os seus principais clientes e com potenciais parceiros que aproveitam para conhecer.

Actualmente os maiores organizadores de feiras internacionais organizam também feiras noutras cidades noutros continentes. O facto de o organizador destas feiras já ser conhecido das empresas interessadas em abordar novos mercados, oferece-lhes a garantia de que irão encontrar padrões de qualidade e de serviço semelhantes àqueles que já conhecem das feiras na Europa. Dá-lhes a confiança para avançar para mercados muito diferentes daqueles a que estão habituados e permite-lhes fazer uma rápida avaliação do novo mercado num contexto que lhes é familiar.

Como tem sido o retorno do investimento nestas participações?

Feiras como a Heimtextil (têxteis lar) ou a Ambiente (artigos de para a casa, mesa e cozinha), que em 2013 atraíram em conjunto 140 empresas portuguesas, fazem há décadas parte do calendário da maior parte das empresas exportadoras. Dado que a Heimtextil tem lugar na segunda semana de Janeiro, há muitos empresas que inclusivamente referem que o ano para elas não começa a 1 de Janeiro, mas com a realização da Feira. Toda a produção, o lançamento de novidades são planeadas em função da participação nesta Feira. Trata-se de um bom exemplo para mostrar que os factos falam por si. Caso não houvesse retorno, dificilmente as empresas voltariam a estar presentes e as feiras sobreviveriam. Pelo contrário, os principais organizadores de feiras têm vindo a registar volumes de vendas recordes.

Participar numa grande feira internacional é sem dúvida dispendioso. No entanto compensa largamente pelo que se poupa noutro tipo de acções. Participar numa feira permite uma enorme economia de esforços. Numa feira conseguem obter-se em três ou quatro dias muito intensos e de forma muito eficiente os mesmos resultados que se obteriam caso se investisse noutro tipo de actividades como a inserção de publicidade, o convite de clientes ou, inversamente, a visita aos clientes.

O que destaca as empresas portuguesas das restantes?

Em todos os sectores onde o factor moda tem alguma influência, ou seja, onde se espera que as empresas apresentem regularmente novas colecções, como é o caso do têxtil, do calçado, das cerâmicas, dos utensílios para a casa e do mobiliário, Portugal apresenta-se como um player no mercado mundial. Não só produzimos de acordo com elevados padrões de qualidade, como oferecemos serviços integrados.

Ao comprar em Portugal, o cliente não está só a adquirir um produto, mas tem a possibilidade de contratar serviços adicionais como o design, a investigação de materiais ou o embalamento. Acresce que as empresas portuguesas conseguem fazer entregas com prazos muito apertados, o que naturalmente representa uma vantagem para o cliente que necessite de ter rapidamente um novo artigo na loja ou de repor stocks de um best seller.

Os nossos produtos são apreciados no estrangeiro? Quem compra?

As empresas portuguesas têm clientes em todo o mundo. Dado o elevado grau de internacionalidade das feiras da Messe Frankfurt, as empresas têm oportunidade de estabelecer contactos com parceiros a nível mundial. A título de exemplo, houve uma empresa na Ambiente que referiu ter tido na última edição da Feira, para além de visitantes de 14 países europeus, visitantes de Hong Kong, do Canadá, dos EUA, da Índia, de Israel, da Rússia, da Arábia Saudita, do Irão, da Austrália e do Paquistão.

A Europa e os Estados Unidos da América continuam a ser os principais clientes das empresas portuguesas. No entanto há outros mercados muito interessantes, como é o caso do Japão - 21 empresas vão participar na Interior Lifestyle Japan em Junho - ou a Rússia, onde Portugal tem vindo a marcar uma presença constante. Dados fornecidos pela Embaixada de Portugal em Pequim revelam que as exportações de Portugal para a China cresceram 30% em 2012.

Os artigos portugueses têm vindo a saber posicionar-se no mercado global. Muitas empresas encontraram nichos de mercado onde o factor preço não é determinante. Os mais atentos saberão por exemplo que a Oprah Winfrey usa os sabonetes da Ach Brito, que Luís Onofre calça Michelle Obama, Letizia Ortiz e Kate Middleton, que os roupões de Abramovich são fabricados em Portugal ou que a roupa de cama e de banho nos Hotéis Mandarin em Milão e em Miami é portuguesa. O que muitos não sabem é que por detrás de uma história de sucesso há quase sempre uma participação numa feira internacional.