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Porto: quando uma “Brigada do Ambiente” apaga memória…

13 de julho de 2016

Uma limpeza de fachada dá direito a notícia pelas piores razões. Aconteceu na Rua dos Caldeireiros no Porto. Estremunhada talvez ainda pelos ‘excessos etílicos’ da comemoração da vitória da nossa selecção de futebol no Euro 2016, uma brigada  da CMP (departamento ECOlinha, Pelouro do Ambiente da CMP) resolveu apagar as frases inscritas na fachada do edifício d'A Sandeira, situado nos nºs 83-85 daquela velha rua da cidade.

O trabalho de «limpeza» já aí a meio quando o arquitecto autor da reabilitação do imóvel, alertado para o facto, chegou esbaforido apelando à suspensão dos trabalhos. “ Ainda consegui chegar a tempo de preservar pelo menos metade... Mas julgo que se perdeu uma parte da identidade da Rua dos Caldeireiros” - disse o Arquitecto Paulo Moreira ao Diário Imobiliário.

As frases da fachada faziam parte da identidade do edifício d'A Sandeira, essa a razão da sua indignação. “Eram elementos muito fotografados por quem passava na rua...” – diz-nos.

O “Público” na secção Local Porto já publicou um artigo denunciando a inusitada acção de «limpeza», mas sempre é bom alertar para actos que na mira de preservarem o Ambiente apagam a memória histórica das cidades…

“Se a ideia da intervenção da ECOlinha (Pelouro do Ambiente da CMP) era criar uma cidade mais limpa e interessante, o efeito foi contrário - as pessoas (turistas e não só) paravam em frente à fachada para fotografá-la, o que duvido que vá acontecer a uma parede lisa igual a qualquer outra...” – lamenta desanimado Paulo Moreira.

Que argumenta: “A decisão de preservar as frases terá contribuído para valorizar o projecto de reabilitação, contemplado com uma menção honrosa no Prémio Nacional IHRU 2014 - Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana. Arrisco em dizer que só não ganhou o prémio principal, porque esse foi atribuído ao edifício vizinho (nº 79-81, mais conhecido como "Casinha no Porto") que também reabilitei - e onde também preservei a pedra desgastada da fachada! A título de curiosidade, refira-se que, em 2015, a "Casinha" foi uma das 5 finalistas do Prémio FAD - Arquitectura, o prémio ibérico de arquitectura mais conceituado da Península”.

Excerto da memória descritiva do edifício d'A Sandeira apresentada ao Prémio IHRU 2014:

“Os vãos do espaço comercial possuíam caixilharia em alumínio, pelo que se procedeu à sua substituição por portas de caixilhos de madeira e vidro, de desenho simples. Na fachada, manteve-se a aparência “desgastada” da pedra com algumas frases gravadas, que se tornaram parte da identidade do prédio e testemunhos da história da própria rua: “há festa cá dentro”, “não fiques à porta”, “ficas para jantar?”, “precisas de casa, entra”.

Salvou-se o dizer “Há Festa cá dentro”; uma festa seguramente mais triste…