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Arquitectura

 

Habitar Porto lança concurso para reabilitar "ilha" em Campanhã

19 de dezembro de 2017

A associação Habitar Porto e a Junta de Freguesia de Campanhã lançaram um concurso de ideias para recuperar uma “ilha” privada das Antas a custos controlados, criando habitações com rendas acessíveis, revelou à Lusa o responsável do projecto.

No âmbito da iniciativa lançada pela associação sem fins lucrativos, até 11 de janeiro qualquer arquitecto pode candidatar-se a desenhar o futuro daquele conjunto habitacional operário típico do Porto, com origens no início do século XIX, onde actualmente apenas uma das 14 casas está ocupada, explicou Aitor Varea Oro, também ele arquitecto e responsável pela Habitar Porto. O vencedor do concurso terá um “prémio de quatro mil euros”.

 

Esta é a segunda experiência

Esta é já a segunda recuperação de uma “ilha” do Porto alavancado pela instituição, que pretende “articular as necessidades de proprietários, inquilinos e trabalhadores da construção civil” e criar “habitação a custos controlados”, uma vez que na freguesia do Bonfim está “em fase muito mais adiantada” uma regeneração na rua de São Vítor.

De acordo com Aitor Varea Oro, tudo isto começou em 2015, com as “conclusões de uma tese de doutoramento aplicada na junta do Bonfim”, com a criação, no mesmo local, de um gabinete de atendimento para “ajudar inquilinos e senhorios a arranjar soluções para reabilitar o seu património” e com a replicação do projecto na junta de Campanhã.

“Cada caso é diferente, porque as condições do património e as possibilidades [económicas] dos proprietários também são diferentes. Para cada caso, estudamos a melhor solução", explicou Aitor Varea Oro.

 

Faculdade de Arquitectura associa-se à iniciativa

No caso da “ilha” das Antas, criar um concurso de ideias foi a forma encontrada para “os senhorios poderem adquirir os serviços de um arquitecto” e para os arquitetos começarem “a trabalhar no projecto já com uma base financeira”, descreveu o responsável.

A Junta de Freguesia de Campanhã é parceira do projeto, financiando “com 2.500 euros” o prémio de quatro mil euros a atribuir à proposta vencedora, num processo a que se associou a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.

“Este valor acaba por ser uma parte dos honorários dos arquitectos”, justificou Aitor Varea Oro.

O concurso serve também para “criar o conjunto de critérios que vão sustentar o negócio” e definir condicionantes ao projecto.

Neste caso, as propostas “não podem aumentar o número de casas” e têm de pensar em habitações “evolutivas”, ou seja, que, no futuro, possam ser modificadas ou ampliadas, “de preferência com recurso a mão-de-obra local”.

A qualificação da mão-de-obra local é outra das preocupações da Habitar Porto, que em Campanhã tem em preparação um curso em reabilitação de edifícios, faltando apenas encontrar três pessoas para completar o número mínimo de alunos (20) para a formação.

 

“Ilha” da Rua de São Vítor: 12 casas

Quanto à “ilha” da rua de São Vítor, no Bonfim, a intenção é candidatar a empreitada, avaliada em 165 mil euros, ao programa Reabilitar para Arrendar, do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), que pode financiar a obra “até 90% do seu valor”.

“Neste caso, o proprietário tem de entrar com 10% de capitais próprios e a Junta de Freguesia do Bonfim também vai participar”, refere Aitor Varea Oro.

Esta “ilha” é composta por 12 casas e também “apenas uma delas está habitada”.

O projecto prevê que a “ilha” passe a ter apenas oito habitações, “de forma a aumentar as áreas das casas e a diminuir os custos de construção”.

Para além deste trabalho, a Habitar Porto tem também a cargo um levantamento sócio-espacial de 60 “ilha”s privadas existentes na Área de Reabilitação Urbana de Campanhã, a pedido da Câmara do Porto, revelou o responsável da associação.

As “ilhas” são tipo de habitação operária típica do Porto no século XIX, constituída por edifícios unifamiliares, normalmente de um piso e separadas ou ladeadas por um corredor de acesso à via pública.

A “ilha” da rua das Antas, em Campanhã, tem uma morfologia atípica, já que as casas formam um pátio.