CONSTRUÍMOS
NOTÍCIA
Actualidade

 

Promotores imobiliários temem abrandamento nas vendas por dificuldades no licenciamento

2 de fevereiro de 2022

Os promotores imobiliários estão menos optimistas quanto ao futuro do mercado residencial, temendo um abrandamento nas vendas.

De acordo com o mais recente edição do inquérito Portuguese Investment Property Survey, realizado pela Confidencial Imobiliário em associação com a APPII, divulgado em Janeiro conclui que este menor optimismo resulta das dificuldades relacionadas com o lançamento de nova oferta, já que os indicadores de procura e preço continuam a evoluir positivamente. Os factores de maior preocupação a limitar a dinâmica da oferta continuam a ser as dificuldades de licenciamento e a burocracia, por um lado, e o aumento dos custos de construção, por outro.   

Apesar das dificuldades reportadas, a procura por novos terrenos não reduziu, mantendo a rota de crescimento observada desde a segunda metade de 2020, com 61% dos inquiridos a revelar estar a procurar terrenos para desenvolvimento de novos projectos neste último inquérito.  

Contudo, o perfil da oferta está a mudar, com os projectos de reabilitação urbana a perderem cada vez mais quota e a construção nova a evidenciar-se. Se no início de 2020, a construção nova concentrava 62% das intenções de investimento, no final de 2021 esse peso evoluiu para 81%.  Esta reorientação reflecte uma alteração particularmente importante da procura, com a quebra acentuada dos projectos dirigidos apenas ao público internacional. No início de 2020, 43% dos promotores posicionava os seus projectos apenas para compradores internacionais, quota que no final de 2020 era de 22% e que atinge agora apenas 8%.

Esta alteração não se reflectiu, contudo, no modelo de ocupação previsto, com uma clara preferência pela promoção para venda, em detrimento do investimento para colocação em arrendamento. Na verdade, no último trimestre de 2021, apenas 41% dos promotores considerava este segmento de build-to-rent como atractivo, sendo este o resultado mais baixo de toda a série e muito distante da quota de 73% atingida no início de 2021

“O sentimento geral do mercado continua a ser positivo, mas há, de facto, uma visão menos optimista em relação ao futuro, influenciada pelas dificuldades que se fazem sentir no lançamento de nova oferta. O desequilíbrio entre a oferta e a procura está claramente identificado como um dos factores de subida dos preços, mas, mais do que isso, é algo que começa a preocupar quem atua neste mercado, por poder afectar o ritmo da atividade”, admite Ricardo Guimarães, director da Confidencial Imobiliário.

Para Hugo Santos Ferreira, Presidente da APPII- Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários, “há que resolver de uma vez por todas, o caos dos licenciamentos urbanísticos, que se agudizam nas câmaras municipais. Este deve ser um desígnio nacional e não apenas de motivação camarária, já que, por causa da morosidade e complexidade destes procedimentos, os portugueses não estão a poder comprar a sua casa de sonho, primeiro porque tardam a chegar ao mercado e depois porque ficam mais caras. Por exemplo em Lisboa, os lisboetas pagam em média mais 1.500 euros a 2.000 euros/m2 na sua casa. Ou seja, em vez de a poderem comprar de forma acessível a  2.000 euros/m2, só por causa dos três e quatro anos que pode tardar um licenciamento nesse município, os lisboetas compram a sua casa a 4.000 euros/m2. É por isso que o tema do licenciamento não é uma questão corporativa, ou autárquica, é nacional: inviabiliza os portugueses de terem acesso a um direito fundamental, que é ter habitação”.