Lisboa: Fundação da Opus Dei vende quarteirão mítico em Marvila
O quarteirão de referência na zona histórica de Marvila, em Lisboa, propriedade da Fundação Maria António Barreiros, foi vendido à empresa Refletecarismas, SA, por 17 milhões de euros.
O quarteirão é delimitado pela Praça David Leandro da Silva, onde se situam também os antigos Armazéns Abel Pereira da Fonseca e a sede do mítico clube Oriental (COL), e pela Rua Fernando Palha e Rua Zófimo Pedroso, com uma área aprovada de construção de 16.160m2 acima do solo.
A empresa compradora, recém constituída, tem como sócios três portugueses ligados ao sector imobiliário e do turismo, e um fundo estrangeiro sediado na Suíça. Ainda não se conhece em pormenor o destino daquela vasta e central área da zona Oriental de Lisboa, sabendo-se, porém, que o projecto de arquitectura foi entregue ao atelier de Frederico Valsassina.
A intermediação do negócios foi da responsabilidade da Onara/Predirumo, que teve o mérito de reunir os compradores adequados e com visão estratégica a um projecto de tal grandeza e carisma. A Fundação Maria António Barreiros possui ainda um outro quarteirão vizinho ao agora transaccionado, delimitado pela Rua da Fábrica do Material de Guerra, Rua Fernando Palha e Rua Amorim, um conjunto com uma capacidade construtiva de 14.110 m2 acima do solo.
Desde a sua criação que a Fundação Maria Antónia Barreiros está estreitamente ligada à Opus Dei, organização católica conservadora ligada aos grandes interesses económicos e financeiros e fundada a 2 de outubro de 1928 por Josemaría Escrivá de Balaguer, sacerdote espanhol canonizado em 2002. Foi constituída em 1986 por testamento da sua benemérita (Dona Maria Antónia Barreiro) “sem quaisquer fins lucrativos e tendo um objecto de exclusivo interesse social”, segundo os estatutos.
Maria Antónia Barreiros, filha única de Acácio e Maria Beatriz Domingos Barreiro, galegos, era divorciada e não tinha descendência. Ela própria, seu pai e mãe foram beneméritos importantes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa na década de 50, instituição que dedicou um livro à biografia da família Domingos Barreiro, “clã de origem galega que se estabeleceu na capital portuguesa na segunda metade do século XIX para, em poucas décadas, protagonizar uma história ímpar de empreendedorismo, sucesso e fortuna”. Acácio Domingos Barreiro criou a Sociedade Comercial José Domingos Barreiro Limitada e foi um dos homens importantes ligado ao Banco Português do Atlântico.
O relatório e Contas da Fundação Maria António Barreiros, de 2015, assinala pelo menos 83 imóveis, espalhados por Lisboa, pelas freguesias de S. Sebastião da Pedreira, Penha de França, Olivais, S. Domingos de Benfica e Campo Grande.
Uma zona da cidade em transformação...
Situado muito próximo da orla ribeirinha do Tejo, o novo empreendimento irá certamente ajudar a requalificar uma zona que outrora era conhecida pelos seus armazéns agrícolas e vinícolas, e que nos nossos dias ganha notoriedade e um novo charme com a reabilitação criativa de muitos espaços terciários e industriais e o surgimento de excelentes projectos arquitectónicos e urbanísticos, como o Living Prata, projectado pelo arquitecto Renzo Piano, o antigo edifício da Tabaqueira, promovido pela Zaphira e projectado pelo atelier português CPU em parceria com o italiano Best, ou, ainda, o projecto que deverá nascer dos antigos terrenos da fábrica de Gás da Matinha, já contíguos ao início do Parque das Nações.