CONSTRUÍMOS
NOTÍCIA
Opinião

Francisco Mota Ferreira

A decisão de comprar uma segunda casa

22 de janeiro de 2024

Falar deste tema quando existe um problema sério de Habitação em Portugal pode parecer uma provocação. Ainda para mais quando, no nosso País, a contra corrente, os preços dos imóveis parece que tendem a estabilizar e a não descer e, ao mesmo tempo, continua-se a pedir este mundo e o outro no mercado de arrendamento. Há, no entanto, uma clara tendência para a compra de uma segunda habitação que, no essencial, pode servir para três propósitos distintos: investimento, rendimento adicional ou pura e simplesmente refúgio.

Comecemos, por isso, com a possibilidade da comprar para investir. Para quem tem os fundos necessários para isso, a compra de uma segunda casa (nem que seja para a manter fechada) pode representar, aquando da decisão da venda deste ativo, um lucro superior às baixas percentagens que a Banca ou o Estado oferecem com os depósitos e os certificados de aforro e uma opção com menos riscos do que investir no mercado bolsista. Em tempos de crise de Habitação, este discurso não é de todo compaginável com o que por vezes a classe política mais situada à esquerda defende, mas quem tiver possibilidade em fazer este tipo de investimentos sabe que isto é algo que, naturalmente, compensa, principalmente quando a opção recai num investimento em áreas com forte potencial de valorização imobiliária. Já para não falar que investir em Imobiliário permite fazer uma diversificação do património, proporcionando estabilidade financeira e proteção contra flutuações noutros investimentos.

Se, porém, a opção de compra for feita no intuito de colocar o imóvel no mercado de arrendamento, isto é algo que também pode ser levado em linha de conta para os potenciais investidores. Para além de constituir um rendimento adicional numa família, cobrindo custos e despesas constantes, o arrendamento acaba por ajudar a dinamizar este mercado, muito embora, como se sabe, a legislação vigente caminha largamente para a circunstância de se penalizar cada vez mais os proprietários e desresponsabilizar os inquilinos. Ou seja, esta opção, embora possa trazer claros dividendos a curto prazo não deixa de ser, nos dias de hoje, uma opção de risco.

A terceira opção é, de facto, a mais simpática, e que se prende com a possibilidade de compra para uso e usufruto pessoal. Claro está que, quando mais perto a segunda casa for da casa principal mais possibilidades existem desta se tornar um verdadeiro refúgio ao bulício da semana de trabalho. Se, porém, a opção residir em adquirir um imóvel que seja mais longe da residência habitual, acaba-se, invariavelmente, por se chegar à conclusão que a casa é usada poucas vezes no ano, constituindo-se a médio prazo como uma fonte de despesas e problemas. Mas, havendo a capacidade financeira para as sustentar, esta é uma decisão que acaba sempre por ser adiada até que a realidade ultrapasse o sonho de ter uma segunda habitação para férias.

Também é verdade que a tendência em adquirir uma segunda habitação pode levar a um aumento da procura em áreas específicas – como aconteceu por exemplo em determinadas regiões no Algarve - impactando os preços e a disponibilidade de propriedades nessas regiões. No limite, a decisão de comprar num sítio em detrimento de outo abre novas possibilidades e levar a uma dinâmica diferente, que permite ao mercado reagir.

Não obstante o caminho, a compra de uma segunda habitação, seja para que propósito for, implica uma decisão muito mais consciente e racional do que a que é tomada quando falamos na compra da primeira habitação. O impacto que uma decisão desta natureza pode ter no mercado imobiliário só poderá ser realmente visto se se assistir a uma tendência generalizada de compra numa determinada zona, local ou região. O que, pelo que temos visto nos últimos tempos, estará longe de voltar a acontecer.

Francisco Mota Ferreira

francisco.mota.ferreira@gmail.com

Coluna semanal à segunda-feira. Autor dos livros “O Mundo Imobiliário” (2021), “Sobreviver no Imobiliário” (2022) e “Crónicas do Universo Imobiliário” (2023) (Editora Caleidoscópio)

*Texto escrito com novo Acordo Ortográfico